- Quando é que o café vai abrir? – pergunto-lhe eu.
- Quando o tempo mudar, no início da primavera, espero
eu. Eu e alguns amigos. Temos de reunir as nossas coisas, e precisamos de um
pouco mais de capital para comprar algum equipamento.
Pergunto-lhe quanto, oferecendo-me para investir.
- Tens a certeza? – pergunta ele um pouco admirado,
pois a verdade é que não nos conhecemos por aí além, somos apenas cúmplices no
nosso ritual diário do café.
- Sim, tenho a certeza. Em tempos pensei ter um café
meu.
- Vais poder beber café de graça até ao fim da tua
vida.
- Deus queira – digo eu.
Sento-me em frente do café sem igual do Zak. Por cima,
as ventoinhas rodopiam, simulando as quatro direcções de um catavento. Ventos
fortes, chuva fria, ou ameaça de chuva; uma sequência indistinta de calamidades
vindas do céu impregnou subtilmente a
minha existência. Sem me dar conta, caio numa inquietação ligeira, embora
prolongada. Não é bem uma depressão, é mais o fascínio por uma melancolia que
rodo na minha mão como se fosse um pequeno planeta, raiado de sombra,
impossivelmente azul.
Patti Smith em MTrain
Legenda: pintura
de Raymond Leech
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