quarta-feira, 19 de outubro de 2016

OLHAR AS CAPAS


Um Herói do Nosso Tempo

Vasco  Pratolini
Tradução: Luís Manuel Naia
Colecção Encontro nº 7
Editora Arcádia, Lisboa s/d

Digamos, francamente: sentia medo. Estava só, no quarto, estudando uma vez mais o plano para o dia seguinte, mas o meu pensamento fugia sempre para ti. Tinha medo, repito. Sim, medo de morrer. Era a primeira vez que pensava nisto seriamente. Talvez porque desta vez as possibilidades que tinha de sair com vida eram poucas. O êxito da acção dependia de mim: teria de colocar a bomba na janela e acender a mecha. Logo que a bomba rebentasse, atacávamos o edifício, para retirara antes dos reforços alemães. Entretanto, o menos que podia acontecer-me era ficar entre dois fogos. No dia seguinte tudo decorreu bem, mas naquele momento a empresa podia redundar em desastre e os alemães poderiam apanhar-me com a bomba nas mãos. A escuridão do quarto perturbava-me, mas não queria acender a luz, a fim de procurar dormir para me levantar no dia seguinte com os nervos em perfeita ordem. Surpreendia-me a querer adivinhar que reacção seria a tua se me matassem; não digo naquele momento, mas depois da libertação, para todo o resto da vida. Era um sentimento egoísta; não conseguia imaginar-te sem mim, como tão-pouco podia imaginar-me sem ti. 

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