Um Herói do Nosso Tempo
Vasco Pratolini
Tradução: Luís
Manuel Naia
Colecção
Encontro nº 7
Editora Arcádia,
Lisboa s/d
Digamos, francamente: sentia medo. Estava só, no
quarto, estudando uma vez mais o plano para o dia seguinte, mas o meu
pensamento fugia sempre para ti. Tinha medo, repito. Sim, medo de morrer. Era a
primeira vez que pensava nisto seriamente. Talvez porque desta vez as
possibilidades que tinha de sair com vida eram poucas. O êxito da acção
dependia de mim: teria de colocar a bomba na janela e acender a mecha. Logo que
a bomba rebentasse, atacávamos o edifício, para retirara antes dos reforços
alemães. Entretanto, o menos que podia acontecer-me era ficar entre dois fogos.
No dia seguinte tudo decorreu bem, mas naquele momento a empresa podia redundar
em desastre e os alemães poderiam apanhar-me com a bomba nas mãos. A escuridão
do quarto perturbava-me, mas não queria acender a luz, a fim de procurar dormir
para me levantar no dia seguinte com os nervos em perfeita ordem.
Surpreendia-me a querer adivinhar que reacção seria a tua se me matassem; não
digo naquele momento, mas depois da libertação, para todo o resto da vida. Era
um sentimento egoísta; não conseguia imaginar-te sem mim, como tão-pouco podia
imaginar-me sem ti.
Sem comentários:
Enviar um comentário