Debaixo do Vulcão
Malcolm Lowry
Tradução:
Virgínia Motta
Capa: Infante do
Carmo
Colecção Dois
Mundos nº 61
Livros do
Brasil, Lisboa s/d
No ano anterior chovera precisamente quando não devia.
E aquelas nuvens do sul indicavam tempestade. Teve a impressão de que cheirava
a chuva. Pensou que nada lhe seria mais agradável do que ficar encharcado até
aos ossos, caminhando, assim, por muito tempo, naquela região bravia, vestido
de flanela branca, cada vez mais e mais encharcado. Pôs-se a observar as nuvens:
eram como cavalos velozes, saltando pelo céu fora. Uma tempestade sinistra e
extemporânea que ia estalar! Assim era o amor – pensou – o amor, quando chegava
tarde de mais. Simplesmente, a esse não se sucedia a calma salutar, como quando
a fragância da tarde ou a luz branda do sol e o calor voltavam à terra
surpreendida! Laruelle apressou ainda mais o passo. E que semelhante amor,
mudo, cego e louco, nos assalte – nem por isso o nosso destino é alterado de
acordo com as precedentes comparações. Tonnere de Dieu… Não servia de nada dizer a que se assemelhava o amor
quando vinha tarde de mais.
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