9 de Outubro
Foi muito simples. Encontrávamo-nos na cozinha. Pilar
e eu, sós, quando a rádio informou que o Prémio Nobel tinha sido atribuído a
Dario Fo. Olhámo-nos tranquilamente (sim, tranquilamente, jurá-lo-ia se fosse
necessário) e eu disse: «Pronto. Podemos voltar ao nosso sossego.» Amanhã
partiremos para Colónia.
14 de Outubro
Frankfurt. Pilar telefonou hoje para casa, a saber se
havia alguma novidade, e realmente, sim, havia novidade, a mais inesperada de todas
as possíveis, aquela que nunca seríamos capazes de imaginar: nada mais nada
menos que uma chamada telefónica de Dario Fo e dizer: «Sou um ladrão, roubei-te
o prémio. Um dia será a tua vez. Abraço-te.» Mal saído do assombro em que a
notícia me tinha deixado, disse a Pilar: «Suponho que uma coisa assim nunca
terá acontecido na história deste prémio…», e Pilar, sábia, respondeu-me: «Não
há que perder a confiança na generosidade humana.
José Saramago em
Cadernos de Lanzarote, Vol. V.
Legenda: fotografia
retirada da Fundação José Saramago
1 comentário:
Memórias perfeitas. O arquétipo do prémio Nobel do que quer que seja.
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