segunda-feira, 24 de outubro de 2016

TALVEZ NO PRÓXIMO ANO SEJA UM FUTEBOLISTA



Bob Dylan continua a borrifar-se para o facto de ter de dizer qualquer coisa sobre o facto de ser Prémio Nobel da Literatura.

Tal como escreveu, a págs. 13, em Crónicas:

…e não sentia necessidade de explicar o que quer que fosse a ninguém.

José Mário Silva escrevia no último Expresso:

Para muitos, o novo rumo escolhido representa uma vulgarização inaceitável do mais prestigiado dos prémios e uma cedência ao relativismo cultural, que vem abolindo as tradicionais distinções entre alta e baixa cultura, arte erudita e popular.

Mas o tsunami que gerou a nomeação ainda não deixou de fornecer as mais diversas opiniões, sejam a favor ou contra a nomeação.

Mario Vargas Llosa, Nobel da Literatura em 2010, gosta de Bob Dylan, mas não concorda com a sua nomeação para o Nobel.

A cultura tende a converter-se em espectáculo e aquilo que se apresenta como uma democratização cultural não é mais do que "banalização do frívolo e este prémio foi um equívoco. E perguntou se, para promover ainda mais o Nobel, no próximo ano o vão dar a um futebolista. Na sua opinião, O prémio deveria distinguir uma grande obra que tenha marcado um tempo, ou a obra de um autor até aí pouco conhecido mas que mereça esse reconhecimento, e não o espectáculo de um grande cantor.
Talvez no próximo ano a Academia Sueca dê o prémio a um futebolista.

A poetisa Maria do Rosário Pedreira também não está de acordo com Dylan Nobel da Literatura e escreveu no seu Horas Extraordinárias:

Chamem-me bota-de-elástico. Não me importo. Eu, que por acaso até escrevo letras para canções e fados, não concordei com a escolha de Bob Dylan no passado dia 13. Por muito belas e profundas que sejam as suas canções, são isso mesmo, canções: texto + música (e ainda interpretação). Não creio que o texto sem a música se aguente e estou convencida de que, se Dylan nunca tivesse cantado os seus textos (poemas, para quem prefira), não teria ascendido à condição de poeta respeitável e nobelizável. A poesia de outros que foram anteriormente premiados – Seamus Heaney, Brodsky, Eliot, Quasimodo, Neruda, só para citar alguns – tem uma música intrínseca, diferente de caso para caso, que não precisa de nenhuma outra música para o texto brilhar. Ter a bengala de outra arte – a música, o cinema – para valorizar um texto é, de algum modo, diferente de se ser puramente escritor. Chamem-me chata. Não me importo.

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