Bob Dylan
continua a borrifar-se para o facto de ter de dizer qualquer coisa sobre o
facto de ser Prémio Nobel da Literatura.
Tal como escreveu,
a págs. 13, em Crónicas:
…e não sentia necessidade de explicar o que quer que
fosse a ninguém.
José Mário Silva
escrevia no último Expresso:
Para muitos, o novo rumo escolhido representa uma
vulgarização inaceitável do mais prestigiado dos prémios e uma cedência ao
relativismo cultural, que vem abolindo as tradicionais distinções entre alta e
baixa cultura, arte erudita e popular.
Mas o tsunami
que gerou a nomeação ainda não deixou de fornecer as mais diversas opiniões,
sejam a favor ou contra a nomeação.
Mario Vargas
Llosa, Nobel da Literatura em 2010, gosta de Bob Dylan, mas não concorda com a
sua nomeação para o Nobel.
A cultura tende a converter-se em espectáculo e aquilo
que se apresenta como uma democratização cultural não é mais do que
"banalização do frívolo e este prémio foi um equívoco. E perguntou se,
para promover ainda mais o Nobel, no próximo ano o vão dar a um futebolista. Na
sua opinião, O prémio deveria distinguir uma grande obra que tenha marcado um
tempo, ou a obra de um autor até aí pouco conhecido mas que mereça esse
reconhecimento, e não o espectáculo de um grande cantor.
Talvez no próximo ano a Academia Sueca dê o prémio a
um futebolista.
A poetisa Maria
do Rosário Pedreira também não está de acordo com Dylan Nobel da Literatura e
escreveu no seu Horas Extraordinárias:
Chamem-me bota-de-elástico. Não me importo. Eu, que
por acaso até escrevo letras para canções e fados, não concordei com a escolha
de Bob Dylan no passado dia 13. Por muito belas e profundas que sejam as suas
canções, são isso mesmo, canções: texto + música (e ainda interpretação). Não
creio que o texto sem a música se aguente e estou convencida de que, se Dylan
nunca tivesse cantado os seus textos (poemas, para quem prefira), não teria
ascendido à condição de poeta respeitável e nobelizável. A poesia de outros que
foram anteriormente premiados – Seamus Heaney, Brodsky, Eliot, Quasimodo,
Neruda, só para citar alguns – tem uma música intrínseca, diferente de caso
para caso, que não precisa de nenhuma outra música para o texto brilhar. Ter a
bengala de outra arte – a música, o cinema – para valorizar um texto é, de
algum modo, diferente de se ser puramente escritor. Chamem-me chata. Não me
importo.
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