terça-feira, 25 de outubro de 2016

COISAS EXTINTAS OU EM VIAS DE...


Chove em Lisboa.

Mircea Eliade que, entre 1941/44, foi adido cultural da Embaixada da Roménia em Lisboa, dá uma imagem única dos amoladores de Lisboa:

Nunca em nenhum país ouvi apelo mais melancólico, mais dilacerante que o de o amolador de lisboa. Anuncia a sua passagem tirando de um flauta de pã alguns sons de uma tristeza perturbadora, longos, incertos, e subitamente abafados num apelo agudo como uma canção ferida. O amolador assobia o seu desespero, sobretudo nas tardes calmosas quando o sol adormece as grandes árvores e uma brisa vítrea acaricia as calçadas. Dir-se-ia o último homem vivo acompanhado da sua mágoa numa cidade abandonada. E volto a ouvi-lo ao crepúsculo quando o ar retoma a sua transparência e começam a fumegar as árvores cheirosas. É, sem dúvida, a expressão mais acabada da saudade.

Este som do amolador acompanha-me desde a infância.

A minha avó quando ouvia esse som, dizia que a chuva estava a chegar.

O amolador é uma figura, quase, desaparecida das ruas de Lisboa
.
Deixaram-se de colocar varetas nos chapéus-de-chuva.

Qualquer guarda-chuva, comprado nas lojas de chineses, fica mais barato do que o custo do trabalho do amolador.

Também já ninguém manda afiar facas e tesouras.

Legenda: a fotografia foi tirada, há 5 anos, na Rua Passos Manuel em Lisboa.

Sem comentários: