Chove em Lisboa.
Mircea Eliade
que, entre 1941/44, foi adido cultural da Embaixada da Roménia em Lisboa, dá
uma imagem única dos amoladores de Lisboa:
Nunca em nenhum país ouvi apelo mais melancólico, mais
dilacerante que o de o amolador de lisboa. Anuncia a sua passagem tirando de um
flauta de pã alguns sons de uma tristeza perturbadora, longos, incertos, e
subitamente abafados num apelo agudo como uma canção ferida. O amolador assobia
o seu desespero, sobretudo nas tardes calmosas quando o sol adormece as grandes
árvores e uma brisa vítrea acaricia as calçadas. Dir-se-ia o último homem vivo
acompanhado da sua mágoa numa cidade abandonada. E volto a ouvi-lo ao
crepúsculo quando o ar retoma a sua transparência e começam a fumegar as árvores
cheirosas. É, sem dúvida, a expressão mais acabada da saudade.
Este som do amolador
acompanha-me desde a infância.
A minha avó
quando ouvia esse som, dizia que a chuva estava a chegar.
O amolador é uma
figura, quase, desaparecida das ruas de Lisboa
.
Deixaram-se de
colocar varetas nos chapéus-de-chuva.
Qualquer
guarda-chuva, comprado nas lojas de chineses, fica mais barato do que o custo
do trabalho do amolador.
Também já ninguém
manda afiar facas e tesouras.
Legenda: a
fotografia foi tirada, há 5 anos, na Rua Passos Manuel em Lisboa.
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