quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O QU'É QUE VAI NO PIOLHO?


O Luís Miguel Mira lamentava-se, há dias, pelas pífias assistências que se estão a verificar no visionamento dos episódios de Cineastes, de Notre Temps e, com uma ponta de raiva, muito judiciosamente, perguntava:


Para homenagear João Bénard da Costa foi ontem inaugurado, naquele nicho em frente à Sala Félix Ribeiro e onde, para além do balcão de entrada, estão as Folhas do Cinema respeitantes aos filmes do dia, o trabalho de José Cutileiro

Os cinéfilos acotovelavam-se para ouvir a senhora directora da Cinemateca, os tempos de crise não permitiram o croquete e o copo de suminho, mas eram abundantes, nas senhoras, as peles, as jóias nas senhoras, os sobretudos pele de qualquer coisa nos senhores.
Muitos beijinhos, cumprimentos afectuosos muitos ahs! de exclamação, as vulgaridades de um  jet-set, que também enxameia os concertos da Gulbenkian, mais interessados pelos intervalos no pelos bolinhos e o chá do catering, que da música própriaente dita.

Não ouvi o que a senhora directora disse, à espera que abrissem a porta da sala, fiquem no meio de todo aquele jet-set, a olhar as luzinhas que estão no tecto e  lembrei-me daquelas palavras que o João Bénard escreveu, no Muito Lá de Casa sobre Joan Bennet:

estou sózinho diante das estrelas.

Possivelmente vi, pela última vez, na sala escura de um cinema, The Ghost and Mrs. Muir.

Pensando nissso, talvez possam calcular como, ao encontro da estação do metro da Avenida, as pernas foram caminhando, aquelas emoções que nenhumas palavras, pelo menos as minhas, conseguem traduzir.

Em tempo:
A única referência que, on-line, consegui encontrar sobre a cerimónia de ontem, na Cinemateca, foi no site de A Bola!!!!!

De lá ,tirei a imagem que encima este texto.

Ficamos conversados.

1 comentário:

Miguel disse...

A propósito de "pretensiosismos Gulbenkian" e outros que tais, há uma história que considero paradigmática e da qual nunca mais me esqueci. Data do final dos anos 70, por ocasião do primeiro grande Ciclo de Cinema Americano que o JBC organizou na Gulbenkian, o dos Anos 30.

O Caleidoscópio, então programado pelo Lauro António, teve a coragem de programar o "A Oeste Nada de Novo", que o Lewis Milestone realizou em 1930 ou 1931, não me lembro agora ao certo nem é importante para história.

Na sessão a que fui, estavam duas ou três pessoas na sala...

Por falta de público, o filme teve de ser retirado da programação e substituido por outro antes de decorrida uma semana, que era o mínimo usual na época.

Não se pode falar em pouca divulgação, porque o Lauro António sabia tratar dessas coisas e o lançamento do filme foi muito badalado nos jornais.

Poucas, mas muito poucas semanas depois, "A Oeste Nada de Novo" abre com pompa e circunstãncia o Ciclo da Gulbenkian.

Resultado? Lotação esgotadíssima poucas horas depois da abertura das bilheteiras...

Nojo é a palavra que mais me vem à cabeça...

Com "vernissage" e tudo, não dúvido que estivesse muito público na Cinemateca para ver "The Ghost and Mrs. Muir".

Ontem, para ouvir o velho Raoul Walsh falar de si e dos seus filmes, éramos meia-dúzia e viva o velho...

Ah, mas é verdade... Jogava o Sporting...