segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

INCANSÁVEIS TRABALHOS


Andei para aqui às voltas, tirei as folhas secas aos amores-perfeitos, arrumei papelada e fui alimentando a ideia de que não deveria meter-me nisto, mas isso acabou por cair no guichet dos conselhos inúteis a ninguém

Na biblioteca do meu pai havia um calhamaço com mais de 700 páginas que dá pelo nome de História das Religiões de Chantepie De La Saussaye, que agora está ali na prateleira dos fundamentais e que, por mera coincidência, publiquei aqui a capa.

Li-o pelos 16/17 anos.

Meti-me depois com o Albert Camua e o Bertrand Russell.

Fiquei a saber que a religião não seria um problema da minha vida.

Respeito quem tem fé, os deuses em que acreditam e lhes atenuam as dúvidas e as dores, tal como alguém deixou dito:

Só Deus sabe da tranquilidade do meu ateísmo e do respeito que tenho pela fé dos outros.

O novo cardeal português, D. Manuel Monteiro de Castro, numa entrevista ao Correio da Manhã, fez afirmações que provocaram uma ligeira tempestade.

O que disse o Cardeal?

Que o maior problema de Portugal é o pouco apoio que o Estado dá à família.

 A mulher deve poder ficar em casa, ou, se trabalhar fora, num horário reduzido, de maneira que possa aplicar-se naquilo em que a sua função é essencial, que é a educação dos filhos.

Terá D. Manuel Monteiro de Castro pretendido dizer o que disse, ou o discurso saíu-lhe coxo, e ficou sujeito às mais diversas interpretações?

Assim, de repente, dei comigo nos bancos da primária, os Livros de Leitura a dizerem aos meninos, que o trabalho da mãe era zelar pela paz do lar:

Minha querida mãe! Como ela olha por tudo, como ela parece estar ao mesmo tempo em toda a casa!

- Maria Isabel, vê que na mesa nada falte ao teu pai, enquanto eu prego este botão no fato do José.

D. Manuel Monteiro de Castro nasceu em 1938.

Dois anos antes, num seu discurso, Salazar, determinara:

O trabalho das mulheres fora de casa não deve ser incentivado. Uma boa dona de casa tem sempre muito que fazer.

O Sr. Cardeal, grande parte da Igreja continua a não querer entender que, o mundo pula e avança.

Mesmo sabendo-se que a mulher que se emancipa, não se emancipa sozinha, que dirão elas que, lentamente, com tenacidade e inteligência, têm vindo a ocupar o lugar a que têm direito na sociedade, da disparatada afirmação do Sr. Cardeal?

A mulher deixou de ser uma mera dona-de-casa-despeja-penicos, para passar a ter um importante papel, juntamente com o homem, na construção de um mundo mais limpo.

Se metade da humanidade são mulheres por que é que o Poder há-me ser exercido pela outra metade? – perguntava há muitos anos Isabel do Carmo.

Ou como cantava Jean Ferrat: eu declaro com Aragon que a mulher é o futuro do homem.

Ou Maria de Lurdes Pintasilgo, católica e a primeira mulher portuguesas a ocupar um lugar de Poder, citada por São José Almeida num artigo no Publico:

Visíveis e com poder, as mulheres terão nas suas as ferramentas para moldar as tão necessárias mudanças civilizacionais.

Custa assim tanto abrir as janelas, Senhores-Homens-da-Igreja?


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