José Afonso partiu há 25 anos.
Hoje, que foi esse dia, houve as palavras costumeiras: imprescindível, genial, único, toda aquela parafernália de palavreado que se convoca para as redondas efemérides.
Mas quase todos se esqueceram que foram terríveis os últimos anos de vida de José Afonso.
Em tempo de euforias os ingleses costumam dizer que há-de aparecer alguém que, para estrgar a festa, põe veneno no champanhe
Voltemos atrás, olhemos a 1ª página do Diário de Lisboa de 31 de Dezembro de 1984:
Na página 16 transcreve-se o diálogo que José Afonso manteve com os jornalistas Eugénio Alves e Ribeiro Cardoso.
No findar da conversa, José Afonso rematou com estas palavras:
Não estou de forma alguma empobrecido na minha combatividade. Não me sinto “desencantado”, como agora se diz. Nem frustrado. Entendo que para uma revolução muito pouco se trabalhou. Mas acho que é este precisamente o momento em que devemos voltar a ser combativos. Em suma: devemos pôr em prática aquilo que o Brecht dizia na “Excepção e a Regra”: “Nunca digas é natural”. Onde houver injustiças, irregularidades, prepotências, devemos estar sempre prontos a denunciá-las. Sobretudo se temos autoridade para o fazer.
Quando proferiu estas palavras, José Afonso, encontrava-se doente há quatro anos – esclerose lateral amiotrófica, disseram os médicos.
Plantei a semente da palavra, escreveu um dia.
Mas, como dizia, hoje, um amigo cá da casa:
Amanhã já ninguém fala em José Afonso…
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