O cinema Londres, que fechou portas nos
primeiros dias do ano passado, vai ser, segundo os jornais, transformado em
loja de venda de produtos chineses.
Bem localizado, o Londres inaugurado em 1972, veio dar
mais brilho a uma das zonas mais interessantes de Lisboa, aquele eixo
Alvalade/Avenida de Roma/Areeiro.
Hoje já não é tanto assim.
Uma muito agradável sala de cinema, criteriosa programação,
as cómodas cadeiras que não mais serão esquecidas por quem nelas se sentou.
Nada a fazer, os tempos são assim e já não são de hoje.
Já assistimos à transformação do Cinema Império em local
de culto de uma seira religiosa, já assistimos a tanta coisa das coisas que têm
vindo a acontecer, um pouco por todo o país às salas de cinema, e não só.
Restam as memórias.
Uma sessão da meia-noite para ver o Céu Aberto de Howard
Hawks, que tem agarrada uma história que, um dia, contarei.
A tarde em que, com o meu pai, ao fim de vinte minutos
trocámos, a exibição de A Insustentável Leveza do Ser, filme
de Philip Kaufman sacado do livro de Milan Kundera, a tal Primavera de Praga, por
umas garrafas de tinto e rodelas de ananás, em Alcântara, no Cuidado
com o Degrau, que já não existe.
As gentes da zona, habitantes comerciantes, estão indignadas
com a tal loja de chineses.
Por uma destas noites, eram mais de cinquenta, juntaram-se
na Pastelaria
Mexicana para curtirem a, tardia, dor e pensarem se haveria uma
qualquer volta a dar, qualquer coisa como uma sala polivalente, aberta ao
cinema, ao teatro, à música e a actividades para crianças, e de um café com espaço para
tertúlias.
Mas… e o dinheiro?
Pois é!
Com uma pragmática melancolia, regressaram a penates.
Uma história velha.
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