Era assim que Eusébio – e não só! - tratava Mário Esteves Coluna que hoje, em Maputo, morreu aos 78 anos.
Era o respeito e a ternura
por um grande senhor do futebol, respeito partilhado por todos os que foram seus
companheiros de equipa, ou que com ele conviveram.
O grande capitão, ou
o monstro sagrado, colocado,
pelas respectivas instâncias, no leque dos 100 melhores jogadores mundiais do
Século XX.
Quando Coluna chegou
ao Benfica, tinha eu 9 anos e desde os 6 que via futebol.
Estou agora sentado nas
bancadas de pedra do velho Estádio da Luz, ao lado do meu avô que se protegia
do sol com um chapéu feito de folhas de jornal.
Não lembro agora se
assisti à estreia de Coluna, mas acompanhei toda a sua carreira, vi o
suficiente para dizer que quando colocou no braço a braçadeira de capitão, que
lhe deixou um outro grande capitão e brilhante jogador que se chamava José
Águas, aqueles rapazes passaram a ter um ser solidário e humano e que os ajudou
a voarem mais alto. Homem de poucas falas, sereno, nunca necessitou de gritos
para impor respeito e disciplina.
Bastava um simples
olhar.
Lembro-me do meu pai
dizer que era nos jogos que o Benfica fazia fora da Luz fora da Luz, que o seu
gigantesco trabalho de sapa, de luta mais sobressaía.
O Benfica daqueles
tempos foi o que a história regista, montra de grandes jogadores, que se
tornaram ainda maiores por ao lado terem aquela figura incontornável de homem
sabedor e solidário.
No banco estava um
treinador mas dentro do campo havia aquele maestro.
O que fazia toda a
diferença.
Já não há jogadores
assim, aliás no futebol já nada é como no tempo em que me sentava, com o meu
avô, nas bancadas de pedra do Estádio da Luz.
Saudades…
Passados todos estes tempos, e para se perceber o quanto
Coluna era importante na manobra da equipa, mantenho uma certeza: o Benfica não
ganhou a terceira Taça dos Campeões Europeus, contra o Milan, Wembley, 25 de Maio
de 1963, uma bonita tarde de sol, televisão a preto e branco, porque,
propositadamente ou não, quando o Benfica ganhava por um a zero, inevitável
golo de Eusébio, os italianos, nos primeiros minutos da 2ª parte, lesionaram
gravemente Mário Coluna.
Porque para além do inesquecível ferrolho, os italianos
tinham por lá uma rapaziada que faziam do pontapé e da canelada a sua matriz de
jogo. Cirandava na equipa Trapattoni que, muitos anos depois, como treinador,
seria campeão no Benfica.
Não havia substituições, Coluna esteve longo tempo a ser assistido
e só regressou, muito debilitado, a escassos minutos do fim do jogo. Já o Milão
tinha batido por duas vezes o Costa Pereira, dois golos da autoria de um tal Altafini,
brasileiro naturalizado italiano.
Terminada a carreira, quando aconteceu o 25 de Abril, Mário
Coluna respondeu ao aceno que Samora Machel lhe endereçou para voltar a
Moçambique, terra natal, onde desempenhou funções governativas e desportivas.
Aos poucos vão desaparecendo os nomes grandes da minha
juventude, as minhas referências.
Os escritores e os cantores encontro-lhes as obras nas
estantes mas para aquelas maravilhosas jogadas, aqueles gritos de golo na
garganta… apenas a memória.
Fazer o resto do caminho em silêncio, um exercício sempre
solitário e repleto de tristeza.
Em meia dúzia de dias Eusébio e Coluna deixaram-nos.
Que horrível começo de ano!
Legenda: Mário Coluna passeado em ombros na sua Festa de Despedida, 8 de Dezembro de 1970.
Fotografia tirada de 100 Anos de Lenda, Diário de Notícias Lisboa, Dezembro de 2004
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