Alta Fidelidade
Nick Hornby
Tradução: Maria
Augusta Júdice
Capa: Fernando Mateus
Editorial Teorema
Lisboa Maio de 1997
Ela não sorri, não
me oferece uma chávena de café nem me pergunta se consegui encontrar a casa
apesar da chuva gelada que apanhei pelo caminho e me impedia de ver um palmo à
frente do nariz. Limita-se a conduzir-me até um gabinete que dá para o átrio,
acende a luz e aponta para os singles na prateleira de cima – há centenas deles,
todos em caixas de madeira feitas por medida – e deixa-me ficar a vê-los.
Não há caixas mas
prateleiras ao longo das paredes, apenas álbuns, CDs, cassetes e equipamento de
alta fidelidade; as cassetes têm pequenas etiquetas numeradas, o que indica
sempre que se trata de uma pessoa séria. Há algumas guitarras encostadas às
paredes, e uma espécie de computador com ar de conseguir produzir alguma música
se se estiver para aí virado.
Subo para cima de
uma cadeira e começo a tirar cá para baixo as caixas dos singles. São sete ou
oito ao todo, e, embora eu tente não ver o que têm dentro quando as ponho no chão,
dou uma olhadela ao primeiro da última caixa: é um single do James Brown na
King, com trinta anos, e começo a ficar em pulgas.
Quando começo a
vê-los decentemente, percebo logo que é tudo o que sempre sonhei adquirir desde
que comecei a coleccionar discos. Há singles do clube de fãs dos Beatles, e a
primeira meia dúzia de singles dos Who, e originais do Elvis do início dos anos
60, e montes de singles raros de blues e de soul, e… há um exemplar de “Go Save
The Queen” pelos Sex Pistols na A&M! Nunca tinha visto isto! Nunca vi
ninguém que tenha visto isto! E oh não, oh, não, céus – “You Left The Water
Runnibg” do Otis Redding, editado sete anos depois da sua morte, mandado retirar
imediatamente pela viúva por não…
- Que tal? – ela está
encostada à aduela da porta, de braços cruzados, a olhar meio meio a sorrir
para a cara que eu devo estar a fazer.
Sem comentários:
Enviar um comentário