Em 1995 Luiz Pacheco tinha 70 anos.
Numa entrevista de Março desse ano, feita por Mário Santos para o Público,
lamentava-se que já andava por cá a demorar-se.
Morreu no dia 5 de Janeiro de 2008, mas José Gomes Ferreira, em 22 de Setembro
de 1967, escrevinhava nos seus Dias Comuns que Pacheco tinha pouco
tempo de vida.
Assim:
Em casa do Fafe, o Palma-Ferreira – que ontem falou
pelos cotovelos – contou inúmeras histórias deste e daquele. Mas só uma me trespassou
do peito às costas: a do Luís Pacheco que, segundo parece, pouco tempo tem de
vida.
Coitado! Apodrece na mais extrema miséria e – pelo menos
o palma-Ferreira teimou nesta afirmação terrível – anda à procura de comida
pelos caixotes.
Senhores! Como é que um homem tão dinâmico, audaciosos
e com a coragem da sinceridade (a que não faltava certa frescura de talento) se
desprezou tanto e se deixou afogar até ao coração da lama?
José Gomes Ferreira morreu em 1985 e João Palma-Ferreira em 1987.
Ainda no ano de 1995, em Dezembro, Cláudia Galhós entrevistou Luiz
Pacheco para o Blitz e lembrou-lhe:
Anda há quarenta anos a ameaçar que morre e afinal está
a enterrar todos os outros…
Não se sabe o que o Pacheco terá pensado da pergunta, mas respondeu:
Deixe-os ir. Os que vão á minha frente vão todos bem.
Há uns o Saramago teve uma pataleta e eu liguei-lhe logo: «Tu não te deixes
morrer que ainda temos de ir juntos ao funeral do Pires.» (Nota do editor:
e foram! - José Cardoso Pires morreu em 1998) Há gente da minha idade que
passa o tempo nos médicos, nos exames, nas análises. Eu devo ter dez doenças
mortais mas só me apanham lá em último caso.
Pacheco numa das suas muitas entrevistas, citando Manuel da Fonseca,
dizia:
Isto de estar vivo ainda um dia acaba mal.
Ou ainda, Setembro de 2005, o Rodrigues da Silva, a perguntar-lhe:
Pensas na morte?
Ele a responder:
Legenda: fotografia de Rui Ochôa.
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