sábado, 8 de fevereiro de 2014

OLHAR AS CAPAS


 Poesia IV

José Gomes Ferreira
Capa: João da Câmara Leme
Portugália Editora, Lisboa, Dezembro de 1970

                                                     (Meditação debaixo da tília do Jardim.)

Recordar torna o mundo mais exacto
com réguas de fumo,
ângulos perfeitos de olhos nos astros
- e a inoncência daquele céu pardo
das manhãs inconcretas
que todos se lembram de ser azul
e não verde para lhe chamarmos oceano
ou folha de árvore.

A realidade é mais confusão
máquina-doida-de-repetir sombras inconcluídas,
bocas dependuradas nos ramos e nas corolas,
destinos de morder o vento,
narinas nas flores,
conluio de pássaros com o sol,
as plantas enganaram-se e deram incêndios em vez de rosas,
construção da Cidade da Morte com pele e cal,
ervas pisadas por espectros
- e este cheiro tão bom a sonho
que torna o mundo mais efémero e real.

As aves nos fios telefónicos alimentam-se de palavras.

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