sábado, 22 de fevereiro de 2014

O LIVRO DE SPÍNOLA


Foi há 40 anos.

Foi ontem.

Se quiser andar às voltas com a História, escolho este dia como a Hora H do arranque do 25 de Abril, o dia em que o livro de General António de Spínola, Portugal e o Futuro, apareceu nos escaparates das livrarias.

Para trás ficaram as muitas reuniões que os capitães foram realizando até chegarem à que aconteceu, 9 de Setembro de 1973, em Alcáçovas, onde é dada a picadela no elefante adormecido e fundado o Movimento dos Capitães.

A 22 de Fevereiro de 1974, é então posto à venda Portugal e o Futuro.

Sabe- se, é um pormenor da História, mas Spínola não escreveu o livro.

A redacção, e não só, está atribuída a um escritor-fantasma, um oficial oriundo da numerosa e diversificada esfera spinolista.

Porque é difícil aceitar que Spínola, entre muitas outras que se encontram no livro, tivesse a opinião  de que nunca a política de um governo pode ser autêntica se não se orientar pelos anseios dos governados.

Demasiada areia para a cabeça de um personagem tido como vaidoso, com pouquíssima apetência cultural e demagogo.

A 11 de Março de 1974, Artur Portela Filho, publica, no República, na sua coluna, A Funda, uma Carta Aberta ao General Spínola.

Termina assim:

«Portugal e o Futuro» surge como «o livro esperado».
É possível, mas por quem?
Pela nossa parte o livro a escrever não é este – é outro.
E será uma obra colectiva.

E assim começava:

No fenómeno que «Portugal e o Futuro» é, há a distinguir duas coisas – o livro ele próprio e V. Ex.ª
Isto porque o que o livro diz é muito menos original do que o facto de ser V. Ex.ª a dizê-lo.
V. Ex.ª e a sua circunstância.
De resto a circunstância de V. Ex.ª do que V. Ex.ª
Definindo a África como o problema mais agudo da nossa geração, e propondo a criação de uma Comunidade Lusíada, clara e insofismavelmente referendada, V. Exª não põe, ao país, uma opção nova – põe, ao país, a novidade que é ser V. Exª a pô-la.
«Portugal e o Futuro» não é uma proposta nova.
V. Exª é.
Daí que, se há alguma coisa de decisivo neste livro, é, muito simplesmente, - o autógrafo de V. Exª.
O que não provando a debilidade do livro, prova a força que V. Ex.ª

Em 14 de Agosto de 1996, Vicente Jorge Silva, escreve no Público:

O Marechal Spínola ficará para a História não por qualquer feito militar de relevo ou pela sua actividade militar mas por ter escrito um livro. O 25 de Abril não foi obra de um livro. Mas sem esse livro e sem a assinatura do seu autor, é provável que o sobressalto libertador que uniu então as Forças Armadas não tivesse sido possível.

A 15 de Março um despacho enviado pela Secretaria-Geral da Presidência do Conselho à Imprensa Nacional, para próxima publicação no «Diário do Governo», exonerou os generais Costa Gomes e António de Spínola dos cargos de chefe e vice-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, que ocupavam por designação directa do chefe do Governo. Um outro despacho nomeou o General Luz Cunha, que ocupava o cargo de comandante da Região Militar de Angola, para suceder a Costa Gomes.

Por estes dias, irei repescar livros, discos, notícias, algo que é parte da minha memória do pré e pós 25 de Abril.

Legenda: pormenor da 1ª página do República de 22 de Fevereiro de 1974.

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