Foi há 40 anos.
Foi ontem.
Se quiser andar às voltas com a História, escolho este dia como a Hora
H do arranque do 25 de Abril, o dia em que o livro de General António de
Spínola, Portugal e o Futuro, apareceu nos escaparates das
livrarias.
Para trás ficaram as muitas reuniões que os capitães foram realizando
até chegarem à que aconteceu, 9 de Setembro de 1973, em Alcáçovas, onde é dada a picadela no elefante adormecido e fundado o Movimento dos Capitães.
A 22 de Fevereiro de 1974, é então posto à venda Portugal e o Futuro.
Sabe- se, é um pormenor da História, mas Spínola não escreveu o livro.
A redacção, e não só, está atribuída a um escritor-fantasma,
um oficial oriundo da numerosa e diversificada esfera spinolista.
Porque é difícil aceitar que Spínola, entre muitas outras que se
encontram no livro, tivesse a opinião de
que nunca a política de um governo pode ser autêntica se não se orientar
pelos anseios dos governados.
Demasiada areia para a cabeça de um personagem tido como vaidoso, com pouquíssima apetência cultural e demagogo.
A 11 de Março de 1974, Artur Portela Filho, publica, no República,
na sua coluna, A Funda, uma Carta Aberta ao General
Spínola.
Termina assim:
«Portugal e o Futuro» surge como «o livro esperado».
É possível, mas por quem?
Pela nossa parte o livro a escrever não é este – é
outro.
E será uma obra colectiva.
E assim começava:
No fenómeno que «Portugal e o Futuro» é, há a
distinguir duas coisas – o livro ele próprio e V. Ex.ª
Isto porque o que o livro diz é muito menos original
do que o facto de ser V. Ex.ª a dizê-lo.
V. Ex.ª e a sua circunstância.
De resto a circunstância de V. Ex.ª do que V. Ex.ª
Definindo a África como o problema mais agudo da nossa
geração, e propondo a criação de uma Comunidade Lusíada, clara e insofismavelmente
referendada, V. Exª não põe, ao país, uma opção nova – põe, ao país, a novidade
que é ser V. Exª a pô-la.
«Portugal e o Futuro» não é uma proposta nova.
V. Exª é.
Daí que, se há alguma coisa de decisivo neste livro,
é, muito simplesmente, - o autógrafo de V. Exª.
O que não provando a debilidade do livro, prova a força
que V. Ex.ª
Em 14 de Agosto de 1996, Vicente Jorge Silva, escreve no Público:
O Marechal Spínola ficará para a História não por
qualquer feito militar de relevo ou pela sua actividade militar mas por ter
escrito um livro. O 25 de Abril não foi obra de um livro. Mas sem esse livro e
sem a assinatura do seu autor, é provável que o sobressalto libertador que uniu
então as Forças Armadas não tivesse sido possível.
A 15 de Março um despacho enviado pela Secretaria-Geral da Presidência
do Conselho à Imprensa Nacional, para próxima publicação no «Diário do
Governo», exonerou os generais Costa Gomes e António de Spínola dos
cargos de chefe e vice-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, que
ocupavam por designação directa do chefe do Governo. Um outro despacho nomeou o
General Luz Cunha, que ocupava o cargo de comandante da Região Militar de
Angola, para suceder a Costa Gomes.
Por estes dias, irei repescar livros, discos, notícias, algo que é parte da minha memória do pré e pós 25 de Abril.
Sem comentários:
Enviar um comentário