A 14 de Janeiro de 1945, debaixo de chuva, estive na manifestação, junto ao Ministério do Trabalho, na Praça de Londres.
Lutava-se
pela Unicidade Sindical.
«O espírito era o de
evitar divisões e lutar contra as tentativas da contra-revolução».
O
Partido Socialista respondeu à manifestação com um comício no Pavilhão dos
Desportos:
«Soares e Zenha, não há
quem os detenha.»
Do
discurso de Salgado Zenha:
«A classe operária não
é propriedade de nenhum partido, não é propriedade de nenhum estado, não é
propriedade de qualquer corrente salvadora.»
Aqui
começou a nascer a pluralidade sindical, dito de outro modo: a divisão dos
trabalhadores.
«Há que partir a
espinha à Intersindical!»
Maldonado
Gonelha, dirigente do Partido Socialista.
A
União Geral dos Trabalhadores (UGT), cujos princípios e estatutos são aprovados
em Outubro de 1978.
Torres Couto foi o secretário-Geral da UGT de 1978 a 1995, abandonando a central em
virtude de uma fraude da central com o Fundo Social Eleitoral.
Das
razões de os trabalhadores deixarem-se dividir, é um processo longo, demorado,
não concluído, muitas memórias perdidas.
Este
é um breve «flash» à volta de uma das mais graves rupturas do pós-25 de Abril, também motivo para trazer até aqui a fotografia, que acima se vê, tirada, algures perto da Nazaré, por
Luís Miguel Mira.
O
José Mário Branco tem uma lindíssima canção a que chamou Inquietação.
Um
diálogo do cantigueiro, do homem, tentando conciliar dores e alegrias, guerras
travadas, um houve aqui alguém que se enganou, os porquês diz não saber, e
apenas quer deixar-nos a chave para nos obrigar a saber, a pensar até que a
luta se transforme em poema colectivo.
INQUIETAÇÃO
«A contas com o bem que
tu me fazes
A contas com o mal por que passei
Com tantas guerras que travei
Já não sei fazer as pazes
São flores aos milhões entre ruínas
Meu peito feito campo de batalha
Cada alvorada que me ensinas
Oiro em pó que o vento espalha
Cá dentro inquietação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda
Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer
Qualquer coisa que eu devia perceber
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda
Ensinas—me fazer tantas perguntas
Na volta das respostas que eu trazia
Quantas promessas eu faria
Se as cumprisse todas juntas
Não largues esta mão no torvelinho
Pois falta sempre pouco pra chegar
Eu não meti o barco ao mar
Pra ficar pelo caminho
Cá dentro inqueitação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda
Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer
Qualquer coisa que eu devia perceber
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda
Cá dentro inqueitação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Mas sei
É que não sei ainda
Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer
Qualquer coisa que eu devia perceber
Porquê, não sei
Mas sei
Que não sei ainda
Há sempre qualquer coisa que eu tenho que fazer
Qualquer coisa que eu devia resolver
Porquê, não sei
Mas sei
Que essa coisa é que é linda»
Legenda:
fotografia de Luís Miguel Mira.
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