A certeza de que, mais tarde ou mais cedo, o exército de Fulgêncio Batista iria conseguir dar conta dos revoltosos que se escondiam na Serra Maestra e daí promoviam umas escaramuças levou a grande cadeia de hotéis americana Hilton a não hesitar em projetar a construção de um novo e grande hotel em Havana.
O “Habana Hilton”, com os seus 30 pisos, 630 quartos e 42 suites com uma vista magnífica sobre toda a cidade, casino, seis restaurantes e bar panorâmico, seria não só o mais alto e mais luxuoso hotel de Havana, como também de toda a América Latina. “Colocaria a Cuba en la primera posicion hotelera y turistica del Mundo”, como reza este anúncio da época que faz parte do delicioso livro “La Habana Esplendorosa”, o qual nos conta o que era a vida em Cuba e, sobretudo, em Havana, nesses tempos pré-revolucionários.
De facto, a
construção deste grande e luxuoso hotel tinha sido uma grande ambição pessoal
do próprio Fulgêncio Batista, desejoso de impor Cuba como o primeiro destino
turístico de toda a América Latina e mostrar à América e ao Mundo que, quanto a
revoltosos, “no pasa nada” e que, em sentido figurado e não só,
Cuba continuaria a dar cartas e a navegar de vento em popa.
Para levar avante a sua vontade, Batista não hesitou em deitar mão de dinheiro pertencente ao Fundo de Pensões do Sindicato dos Trabalhadores da Restauração para financiar parte de um investimento global de 24 milhões de dólares.
A inauguração teve
lugar, com pompa e circunstância, em Março de 1958, com 300 convidados a terem
direito a cinco dias consecutivos de festa, entre 19 e 23 desse mês.
Veio o próprio Conrad Hilton, vieram atores e atrizes de segunda categoria, que os principais, provavelmente, tiveram receio que lhes acontecesse o mesmo que aconteceu a Fângio e a Errol Flyinn, e veio, também, essa horrenda criatura cronista de mexericos chamada Hedda Hopper, sempre pronta a trincar um croquete onde se proporcionasse.
Um tremendo sucesso!
“Habana Hilton” era, de facto, o símbolo da pujança do capitalismo em Cuba e, nos primeiros meses que se seguiram, inúmeros foram os visitantes que fizeram questão em lá ficar.
Só que, menos de 10
meses após a inauguração, viram bater-lhes à porta uns visitantes inesperados
e, certamente, indesejados: Fidel Castro “y sus muchachos”…
Se o Hilton é o
verdadeiro símbolo do capitalismo e da influência americana em Cuba, nada
melhor - terá pensado Fidel - do que ocupá-lo e aí instalar o seu
quartel-general.
E se bem o pensou, melhor o fez.
Em 8 de Janeiro de 1959 o hotel foi tomado e duas “suites” foram ocupadas.
A 2324, chamada
“Suite Continental”, para instalação do comando das operações, realização de
conferências de imprensa, receção de visitantes estrangeiros e outras
iniciativas do género.
A 2224, chamada “Suite Castellana”, para o alojamento do próprio Fidel.
Outros quartos terão sido ocupados para instalação de outros dirigentes.
Pode ver-se, na
fotografia que vos mostro, um grupo de revoltosos a tomar posse do “foyer”
do hotel. Na “net” há muitas mais, para quem se interessar...
Esta ocupação iria durar apenas três meses, porque Fidel não pretendia abrir mão do dinheiro da Indústria do Turismo e até chegou, mais tarde, a participar em ações de promoção do hotel junto do público americano.
O próprio casino foi fechado e, depois, reaberto.
Mas o mal estava
feito. A frequência baixou para menos de um sexto e estava no ar um pedido de
indemnização por parte da Hilton quando Cuba optou por nacionalizar o hotel, o
qual, a partir de Junho de 1960, se passou a chamar “Hotel Habana Libre”.
Aproveitando a excelente oportunidade, a primeira embaixada soviética em Cuba instalou-se em dois dos andares do hotel. Não sei se alguma vez terão chegado a pagar renda...
Mas os anos passaram e nem tudo foram rosas para a Revolução Cubana.
Erros seus, má
fortuna, amor revolucionário ardente…
Mas também muito
embargo mesquinho à mistura, como Cuba não se cansa de fazer lembrar ao seu
povo e quem a visita.
Com o colapso da antiga União Soviética, Cuba compreendeu que teria de voltar a apostar, em força, no turismo estrangeiro.
Depois de fracassada
uma primeira tentativa de colocar o hotel sob a gestão de um operador privado,
foi o Grupo espanhol Sol Meliá quem tomou conta das operações e o hotel passou
a chamar-se, a partir de 1996, “Hotel Tryp Habana Libre”.
Foi assim que o encontrei quando, em 2015 , tive a oportunidade de lá passar algumas noites e, tendo tido a sorte de ficar num dos andares mais altos, pude confirmar que, não obstante tanta água ter passado por debaixo das pontes, a vista continua magnífica.
E, como não poderia deixar de ser, fui espreitar as célebres “suites”.
Elas eram visitáveis
no seu interior, mas só mediante marcação e a meio da manhã.
Como não me podia dar ao luxo de perder muito tempo em Havana só para isso, fiquei-me pela visão das portas de entrada, que aqui vos mostro.
Nada de muito especial...
São apenas duas simples portas, mas carregadas de História.
Texto e fotografias de Luís Miguel Mira
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