Esta tirada é sobre W.A face aos imprevistos...
Não vos enviarei muitas destas e, felizmente, no livro
também não abundam...
"Em relação à sensualidade irei dar apenas um exemplo, porque é
embaraçoso. A ponta do iceberg. Estamos sentados num restaurante, tendo feito
os nossos pedidos. Estou a aguardar ansiosamente pela minha suculenta entrada
Nova Scotia. Ela é subitamente tomada pela luxúria. Nada fiz para o provocar,
para além de ser, como habitualmente, carinhoso, divertido, efusivo. "Anda", diz ela, levantando-se.
"Onde?",
pergunto eu , salivando perante a eminente chegada de um prato de salmão
fumado. "Apetece-me fazer amor",
diz ela. "Mas eu pedi a minha entrada",
queixo-me. "Vamos",
diz ela, querendo aquilo que quer quando quer. "Onde?", guincho, sendo puxado e
arrastado para a porta. "Voltamos
já", diz ela ao empregado. "Mas onde vamos?", pergunto. "Vi uma viela ao virar da esquina", diz ela. "Mas estamos na baixa de Nova Iorque",
digo eu, "estamos na Fifty-Four,
entre a Broadway e a Seventh. Toda a cidade se estende á nossa
frente". "É um
espaço pequeno e
escuro", diz ela, "descendo
uns degraus, está negro como breu, ninguém nos vai ver".
Agora, sendo arrastado através de um emaranhado de caixotes do lixo, sou empurrado para um espaço exterior escuro e reservado na baixa de Manhattan. À nossa volta transito e peões praticamente visíveis. Por fim, a luxuria vence o salmão fumado e eu sucumbo. Fazemos amor e, pouco depois, estou sentado em frente a minha entrada, um sorriso beatifico no rosto, o rosto dela rubicundo de realização. Mulheres assim não crescem nas árvores".
(pág. 149 e 150)
Woody Allen em A Propósito de Nada
Colaboração de Luís
Miguel Mira
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