Em Cuba, chama-se
“Paladar” às casas particulares que aceitam comensais fora do circulo familiar.
A origem deste nome
parece estar numa telenovela brasileira do início dos anos 90 que se chamava
“Vale Tudo”, cuja personagem principal criara uma cadeia de restaurantes com
essas características que se chamava, precisamente, Paladar.
Atendendo ao sucesso
dessa telenovela em Cuba, e porque no país as primeiras licenças para esse tipo
de restauração por conta própria começaram a ser emitidas precisamente nessa
altura, o nome Paladar acabou por ficar e cair no uso corrente.
Com a progressiva e
cautelosa abertura da economia cubana à iniciativa privada, os “paladares”
generalizaram-se e foram perdendo essa característica inicial de refeição em
ambiente familiar, acompanhadas pelos próprios membros da família, transformando-se,
muitos deles, em restaurantes em tudo idênticos aos habituais, embora
localizados em espaços de ambiência mais familiar.
Em Cuba o “paladar” é
uma verdadeira instituição nacional e, diz quem sabe, se o soubermos escolher
bem, uma forma imperdível de conhecer a verdadeira cozinha popular cubana e a
própria realidade social do país, porque sempre são umas boas duas horas de
conversa informal com uma pequeníssima amostra da população local.
E até, tristemente,
para algo mais, porque tenho um amigo que fez essa experiência e a quem foi
oferecida, a preço vantajoso, a própria filha do casal como sobremesa. Uma
verdadeira desgraça, merecedora daquilo que ele fez… Recusar, gentilmente, e
deixar uma boa gorjeta suplementar pelo bom tratamento prestado...
Mas, como atrás vos
referi, hoje há paladares e paladares...
A Cristina sempre
reagiu mal a qualquer uma das sugestões que lhe fiz acerca da ida a um
“paladar” porque, dizia ela com uma certa razão, nunca sabemos o que nos
espera… Se fosse um local em relação ao qual tivéssemos uma boa recomendação de
alguém confiável, ainda vá, mas agora assim, às cegas, seria sempre um enorme
risco…
Mas como não queria
sair de Cuba sem experimentar um “paladar”, resolvi jogar pelo seguro e
reservar jantar no “La Guarida”, que é considerado um dos melhores de Havana.
O “La Guarida” ficou
célebre por, como ele próprio não se cansa de anunciar até no letreiro à
entrada, ter sido o lugar onde decorre uma boa parte de “Morangos e Chocolate”,
o filme de Tomás Gutiérrez Alea, de 1994, que é bem capaz de ter sido o último
grande sucesso internacional do cinema cubano.
Embora tenha gostado
do local e apreciado o tempo que lá passei, o jantar acabou por ser, para mim,
uma relativa desilusão.
Não que a comida não
tenha sido boa, que o foi, mas pelo simples facto de me ter parecido completamente
descaracterizada em relação aquilo que eu imagino ser a gastronomia tradicional
cubana.
Imaginem um desses
restaurantes de um “Chef” da moda, em Lisboa, e comparem essa
gastronomia com a verdadeira cozinha tradicional portuguesa.
Assim sucedeu no “La
Guarida”, como poderão comprovar por este prato que vos mostro, que é um
cozinhado sofisticado à base de leitão, e que se chama “cochinillo lechal, con
reducción de naranja y miel”.
E os preços não são os cubanos, mas mais próximos dos europeus, claro está...
Este “paladar” fica
num segundo andar de um prédio que julgaríamos em ruínas… Os acesos estão a
cair de podres, mas isso parece fazer parte do encanto do local...
No interior as
instalações são excelentes e muito acolhedoras, ao nível dos melhores
restaurantes de Lisboa, e o serviço é eficiente e simpático.
Ao fundo do corredor
existe um bar num terraço ao ar livre, com vista para o mar e para a cidade
velha, que é uma ótima maneira de terminar a nossa experiência cultural e
gastronómica.
Em boa verdade, como
é óbvio, eu continuo sem saber o que será um “verdadeiro Paladar”.
Mas nada se perdeu.
Chegámos cedo e ainda
tivemos tempo de ir passear pelas imediações e ter um pouco a sensação do que é
o problema do alojamento em Havana e o ambiente nos seus bairros populares:
muitas Famílias em muito pouco espaço mas todos, aparentemente, bem dispostos e
a confraternizar uns com os outros sentados no meio da rua.
E ainda tivemos
oportunidade de nos sentarmos um pouquinho no muro do Malecón, junto ao mar,
que estava com uma luminosidade espantosa que, infelizmente, fui incapaz de
captar em fotografia...
Texto e fotografias de Luís Miguel Mira
Sem comentários:
Enviar um comentário