Por Menos, Só Talvez no Biafra
Vitor Silva Tavares, Mário Cesariny, Sérgio Lima
Capa: Carlos Ferreira
Barco Bêbado, Lisboa,
Setembro de 2020
Meu Caro Poeta
Desculpe-me o só agora. Mada por não ter ficado grato pelas suas cartas e o folheto «Noa Noa» do Le Clézio, este ao encontro do que muito prezo na intervenção editorial. Aconteceu que deambulei por outras geografias próximas do meu recolhimento – e tal foi este que até o propósito de lhe escrever se me ficou a leste. Não sem recriminações: é que não queria, não quero, que V. pensasse ter o seu contacto caído em nenhures. Julgo ter captado os sinais, a fala – afinal o que importa.
Reeditar o Pedro Oom? – Uma já neurótica tentação, sempre adiada por
dúvidas, escrúpulos, falta de molécula para enfrentar as previsíveis dificuldades,
talvez uma humildade castrante por exagero, talvez uma certa cobardia, talvez a
assumição de uma desistência a somar ao real. Só de pensar na irmã do Pedro,
senhora que me esgota a capacidade de classificação, sinto logo o desejo de não
tirar a cabeça do buraco. Não que ela tenha o que quer que seja a ver com a
obra do irmão, sim porque tal se atribui mais do que não seja por razões… de
sangue (?!) e isso me incomoda sobremaneira.
Pretextos meus? Admito. Mas também admito que o seu convite (ou a sua
proposta) me espevite para o que tem de ser feito, é sempre a Hora! Óbvio que
não veria, não vejo, quem melhor, com mais propriedade e justeza pudesse organizar
o livro do Pedro que o Mário Cesariny. Assim se disponha, assim desato eu o
novelo em que me tenho enredado. E com júbilo!...
(de uma carta de Vitor Silva Tavares para Mário Cesariny).
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