terça-feira, 27 de outubro de 2020

CONVERSANDO


Voltaremos ao silêncio das ruas desertas?

 No exacto momento em que começo a escrever, o mundo atingiu o número de 1.164.094 mortes causadas pela covid-19.

Os que destas coisas sabem, dizem que teremos 4 mil casos por dia em Novembro.

 1.

 Segundo o Público, o Banco de Portugal tinha poderes para afastar Ricardo Salgado do BES um ano antes do colapso do banco, mas há que dizer que tiveram medo de afrontar o então dono disto tudo.

 2.

 Mais do que duplicou o número de grávidas dispensadas pelas empresas.

 3.

 Lares para idosos ilegais, jardins de infância ilegais, canis ilegais.

Faltam agentes fiscalizadores: incúria, descuido?

Os gabinetes dos 70 membros do Governo têm ao seu serviço 1236 pessoas.

Razão tinha a Alexandra Alpha:

«Isto não é um país, é um sítio mal frequentado.»

 4.  

 Anos 70, eu e o meu pai à conversa, boa parte eram divinos e saborosos silêncios, no banco, debaixo da parreira de uva morangueira que havia na casa de Almoçageme, por vezes, o Marcolino aparecia a dizer-nos que a maçã reineta, para ser boa, tinha que ter aço (ele queria dizer ácidas) e que o vinho só podia ser feito com uvas. Fazia um vinho caseiro sem sulfitos que tínhamos de o engarrafar colocando lacre por cima da rolha para que estas não saltassem.

5.

Vai ficar tudo bem deu-nos a ideia de que o ataque que enfrentávamos nos tornaria pessoas diferentes, solidárias, compreensivas.

A pergunta é retirada da 1ª página do Expresso.

Numa altura em que tanta gente perdeu o emprego e outros aguardam o dia pela chamada para lhes comunicarem a extinção do seu posto de trabalho, ficamos a saber que os mais ricos ficaram ainda mais ricos.

6. 

O governo, o orçamento o Novo Banco.

Palavras de Francisco Louçã:

«Num tempo em que falta dinheiro para contratar médicos, fechar os olhos às manigâncias pouco imaginativas dos banqueiros não é política. É gosto pelo abismo. E sobretudo, desmerece o país.»

 7.

Ferreira Fernandes, no Público, cita o filme Os Amantes do Tejo em que Amália Rodrigues aparece a cantar Barco Negro e onde um miúdo de Alfama pergunta a Daniel Gélin se gostava de viajar e ele respondia: «Gosto é de partir.»

8.

No ano de 1973 a Arcádia pediu a Manuel da Fonseca que fizesse uma biografia de Amália Rodrigues.

O livro nunca foi publicado mas, recentemente alguém descobriu as fitas gravadas das conversas que Manuel Fonseca teve com Amália. Totalizam cerca de nove horas. Nelson de Matos e a Porta Editora, com o enquadramento e notas de Pedro Castanheira, publicaram, agora, o livro que tem por título «Amália nas suas Palavras». Rui Vieira Nery escreveu o prefácio.

Eu que tento gosto do Manuel da Fonseca e da Amália, dirigirei um destes dias os meus passos para comprar o livro.

Sobre Amália, no seu livro «Amália: Dos Poetas Populares aos Poetas Cultivados» escreveu Vasco Graça Moura: «soube incutir como mais ninguém um acento profundamente dramático à expressão daquilo que cantava. Não apenas por ser dotada de uma voz absolutamente extraordinária. A sua articulação por vezes centrava-se mais no significante do que no significado, mas acabava restituindo misteriosamente a este último todo o seu valor, e encontrou ou inventou melismas, inflexões verbais, tensões intrasilábicas, portamentos, arabescos e outros efeitos vocais, alguns porventura de uma inspiração mediterrânica bebida da Andaluzia à Córsega, mas todos eles únicos, pessoais, intransmissíveis e sobretudo singularmente adequados a traduzir uma entrega total à intensidade dos sentimentos, das dilacerantes violências da paixão à angústia mais torturada, à ternura mais límpida, ou à alegria simplesmente ingénua dos fados que ela cantava.»

 


 Lágrima tem versos de Amália Rodrigues que, segundo Vasco Graça Moura «é uma obra-prima».

Nota do editor: a citação do livro de Vasco da Graça Moura é retirada de um artigo de Nuno Pacheco publicado no Público.

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