Para assinalar os 10 anos do CAIS DO OLHAR, os fins-de-semana estão guardados para lembrar
alguns textos que por aqui foram sendo publicados.
O PAÍS DE ABRIL
Nunca deixamos de pensar nos dias em que esperámos a queda da ditadura para, como Jorge de Sena, conhecer a cor da liberdade.
Agora que entrámos por Abril dentro, tornam-se nítidas, angustiantes também, essas lembranças: as palavras, as longas conversas, as canções que nos acompanhavam os dias.
Aos 20 anos, partilhavam-se sonhos desmesurados: mudar a vida, transformar o mundo.
Acontecido Abril, não tardaram ventos trazendo outras
brisas.
Brisas que traziam notícias dos que não queriam que as coisas fossem assim tanto, outros que fossem mais suaves e, por estas e por outras, desencontrámo-nos.
Mário-Henrique Leiria, que sempre foi um combatente por causas, daqueles que entenderam a Pasionaria quando ela gritou : más vale morir de pie que viver em rodillas, num cair de tarde lisboeta, entre dois gins, dizia-me:
- Vê lá tu, que o Álvaro Guerra, deixou de me falar só porque não sou do partido dele!...
Agora lembramos – os que se lembram, os que, ainda se
querem lembrar, que havia um país para construir, um país onde se
pudesse viver com dignidade.
As palavras de Manuel Alegre, que já nos falavam de um País de Abril, poderia ser um outro qualquer mês, mas ele escreveu Abril.
Sorrisos de pássaros, canções de paz.
Quem me dera encontrar um bom livro, para viver dentro dele. Quem me dera encontrar um bom livro. Se eu encontrasse um livro realmente bom, não teria que vir - nunca mais - cá fora, para ver o que fizeram com a minha canção.
Mas... pode ser que tudo acabe bem, mãe. Pode ser que
tudo dê certo. Se as pessoas estiverem compradoras de lágrimas, um dia destes
vou ficar rico, mãe. Vê o que fizeram com a minha canção, mãe! Embrulharam-na
em plástico e viraram-na do avesso, mãe. Olha o que fizeram com a minha canção!
É a única coisa que eu faço bem... e eles viraram-na de cima para baixo, mãe. Vê o que fizeram à minha canção!
Nota do editor:
Para a canção de Melanie, utilizou-se uma tradução livre de Samuel Quedas tirada de O Cantigueiro.
Texto publicado em 3 de Abril de 2012
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