A 28 de Abril de 1974, os portugueses viviam o seu primeiro domingo em Liberdade.
Na 1ª página do “Diário de Lisboa” reproduzia-se um “poster” de João Abel Manta:
“Esta é a reprodução de um “poster” que apresentamos nas páginas centrais da nossa edição de hoje. O “poster” alusivo ao actual momento político português, é da autoria de João Abel Manta, artista que, por motivos demais conhecidos, há tempo não publicava qualquer trabalho no nosso jornal.”´
Na página 11 era notícia a morte de Pedro Oom.
Quando o poeta, finalmente, olhou a madrugada por que tanto esperara, o coração não resistiu:
“O irreverente e talentoso poeta surrealista Pedro Oom, figura muito conhecida da Lisboa literária e boémia, frequentador assíduo do café Gelo ao tempo em que ali se reunia o grupo em que pontificavam Mário Cesariny de Vasconcelos, Luiz Pacheco e outras personalidades daquela corrente estética, morreu ontem de comoção provocada pela queda do fascismo em Portugal.
O insólito autor de tão belos poemas fantásticos e escatológicos como os que publicou em “Grifo” e em “Pirâmide não resistiu à alegria da vitória.
Lembramos com mágoa a sua simpática figura e recordamos as suas intervenções na JUBA. Pedro Oom tinha 47 anos.”
Ainda no “Diário de Lisboa”, este era o começo da crítica de televisão de Mário Castrim:
“Anda comigo. Assim de braço dado, lembras-te? Como daquela vez quando estávamos no Terreiro do Paço e me deste o braço e lá fomos e apanhámos ambos a mesma cabeçada do cavalo e tu vieste levantar-me junto da muralha e dizias-me: “Estás bem?, e eu olhava para ti e tinhas sangue a escorrer da testa e depois nunca mais te vi e nem sei quem és nem ao menos o teu nome.”
Na redacção do “Diário de Notícias”, as janelas ainda não tinham sido escancaradas. Na 1ª página podia ler-se:
“Serenidade e expectativa nos territórios do Ultramar”
Na 7ª página um telegrama da “France Press”, proveniente de Montreal, revelava que Agostinho Neto, em nome do MPLA, não aceitava a proposta do General Spínola com vista à formação de uma Federação. O MPLA classificava a proposta como fascista, nazi e salazarista e reafirmava que a luta sempre foi por uma libertação completa e, apenas, neste princípio se dispunha a encetar negociações com Portugal.
Também “O Século” vivia-se o mesmo problema das janelas não escancaradas, e na pág. 11 aparecia este título:
“Efectuada a transmissão de poderes em todos os territórios do Ultramar”
Na página 3, “A Capital” avançava que tudo levava a crer que o 1º de Maio iria ser decretado, pelas Forças Armadas, Feriado Nacional. O pedido fora formulado por Francisco Pereira de Moura, na reunião que, na véspera, a CDE mantivera com o General Spínola.
Na pág. 14 era publicada esta fotografia.
A legenda dizia que “um elemento anónimo do 1º Comité de Acção Popular, baptiza a ponte sobre o Tejo.”
O corpo da notícia esclarecia que o “Comité de Acção Popular” nascera espontaneamente, e propunha-se realizar uma série de acções com vista à eliminação de símbolos do regime derrubado a 25 de Abril.
A alteração do nome de Ponte Salazar para Ponte 25 de Abril era o primeiro desses actos.
A propósito deste acontecimento, um oficial, não identificado, da Junta de Salvação Nacional, declarou: “estamos aqui, não para desrespeitar os mortos mas pare defender os vivos.”
Na Junta de Salvação Nacional, também as janelas estavam por escancarar!
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