Não choveu neste Domingo de Páscoa.
Não há matéria apetecível para o Porreiro falar com o Pá.
Após almoço familiar, estive a reler passagens de “Os Anos Decisivos” de César Oliveira, militante anti-ditadura, professor, deputado, Presidente da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital falecido em Junho de 1998.
O seu testemunho termina assim:
“Penso que somos cada vez mais um povo cinzento e mais baço, onde o oportunismo é favorecido, a partidocracia do laranjismo cavaquista gera medo, impotência e sobretudo a interiorização em muitos portugueses da pior das heranças do salazarismo: a cunha, a “pedinche” aos “senhores do poder, a subserviência perante o senhor ministro a que é sempre preciso dizer… sim, senhor ministro,
Crescemos economicamente, mas tudo ou quase tudo aquilo que é essencial num processo desenvolvimento harmonioso e integrado, que faça de cada homem o senhor da sua história e do seu destino, está por fazer. Deixámos até, muitos de nós, de ter a capacidade e a energia que leva à indignação e ao clamor colectivo que Humberto Delagdo, em 1958, no Porto, exprimiu lapidarmente ao gritar: “Estamos fartos! Cansaram-nos! Vão-se embora!”
Acredito, contudo, na capacidade de darmos colectivamente as mãos, de unirmos esforços e vontades para vencer uma batalha que coincida com a necessidade de ganhar uma guerra: construir uma alternativa que relance, em cada um e em todos, a esperança na edificação de um futuro onde, como escreveu Manuel Alegre, “as mãos do homem tenham, exactamente o tamanho das mãos do homem”.
Eu… por mim continuarei a seguir as bandeiras vermelhas que comecei a erguer, quando vi Humberto delgado numa varanda do Hotel Astória, em Coimbra, junto ao Mondego, no ano já distante de 1958.”
César Oliveira, em Os Anos Decisivos
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