sexta-feira, 29 de abril de 2011

PORREIRO, PÁ!


Por estranho que pareça, para os ingénuos, sábios, inocentes, habituais clientes do café do bairro, onde tudo se discute, por vezes acaloradamente, as conversas de hoje giravam à volta, não da troika e do que aí vem, mas do casamento real entre Kate e William, em televisor aberto, e da noite europeia jogada na véspera.

Decididamente, estes portugueses não têm emenda.

Declarado o espanto (?) volto-me para uma visita habitual desta casa: o jornalista Manuel António Pina.
Sempre entendi que, quando há quem diga as coisas melhor do que possa agora escrever, o que não é nada difícil, não hesitações e o que de imediato há a fazer, é chutar a opinião.
Esta é a crónica de Manuel António Pina, hoje, no “Jornal de Notícias”:

“Pergunto-me até que ponto é um acto sério a apresentação, por qualquer dos partidos que se propõem governar o país em coligação com o FMI, de um programa eleitoral, se o "programa" desses partidos está a ser preparado pela "troika" da intervenção externa, será comum a todos eles e não irá a votos.
Os programas eleitorais são rituais que, consagrados pelo uso em alturas de eleições, ninguém, sobretudo os eleitores (partindo da improvável hipótese de que algum eleitor os leia), leva a sério. Os partidos exteriores ao chamado "arco da governação" podem dar aí largas ao sonho e ao ressentimento já que a realidade, o que quer que isso seja, não lhes irá pedir contas; mas também os partidos ditos de governo podem prometer o que quiserem pois tais promessas estarão sempre pendentes de uma espécie de cláusula "rebus sic stantibus" que, por um motivo ou por outro (desde a situação em que encontraram o país à situação em que o Mundo se encontra), também se tornou uso os partidos invocarem mal chegam ao poder.
Nas actuais circunstâncias, porém, um programa eleitoral é menos ainda: é um exercício de ficção. Principalmente se não se limitar às coisas miúdas e subalternas da governação, equivalentes àquelas que, na economia doméstica, cabem a uma governanta ou, no Estado, a um chefe de repartição. Que é só (a isto chegámos) o que vamos eleger, chefes de repartição para executar decisões tomadas por outros.”

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