quarta-feira, 27 de abril de 2011

PIDES NA PRISÃO



A 27 de Abril de 1974 a imprensa diária continuava a publicar notícias, fotografias, reportagens sobre o Movimento dos Capitães, a libertação dos presos políticos, o desmantelamento da PIDE/DGS, bem como reacções internacionais aos acontecimentos verificados no país.

Título da 1ª página do “Diário de Lisboa”:

“170 Pides nas celas de Caxias.”

Em baixo, à direita, uma fotografia com a seguinte legenda:

“Máscaras de medo, de terror caracterizavam os Pides ao darem entrada nos camiões que os conduziram da Rua António Maria Cardoso para a prisão de Caxias – medo e terror que durante largos anos se comprazeram em espalhar no povo indefeso e nos estoicamente lutavam para restituir a Portugal a justa liberdade”.

Neste sábado, o “Expresso” fazia, após os acontecimentos do dia 25, a sua primeira edição. 

Em editorial declarava que “não precisamos fazer meia volta como tantos outros (…) continuaremos, portanto, naturalmente, pelo mesmo caminho. Aceitando sem reticências o desafio necessário que a nova situação política nos lança. Participando na batalha contra os outros necessários desafios. Lutando por que o país e cada um dos seus cidadãos saibam adaptar-se e beneficiem da mudança que já estamos a viver.”

Também em editorial, o “Diário de Notícias” dedica-se, à moralidade, ao perfeito cinismo ou o começar de pôr água na fervura do caldo, género portem-se bem meninos que isto não é o da Joana.:

“O que os Portugueses não devem entretanto perder de vista é que para se ter liberdade é preciso merecê-la. Cada um de nós tem de provar por si que é digno dela, adquirindo hábitos de tolerância e respeito pelo próximo que andam muito esquecidos. Só por esse modo poderemos triunfalmente refutar o argumento dos que negam ao povo português a maturidade necessária para ser livre”

Na sua página 5 dava conta da “romaria” que ia pela rua onde reside Spínola:

 “Milhares de pessoas de todas as camadas sociais têm-se dirigido à residência do general Spínola, na Rua Rafael de Andrade, dando àquela artéria um movimento sem precedentes. A intenção é sempre, de saudar o presidente da Junta de Salvação Nacional e de lhe manifestar a sua adesão.”

Na sua 1ª página “O Século” noticiava que Mário de Soares partiria de Paris de comboio, estando prevista, para domingo a sua chegada a Santa Apolónia.
 
Palavras de Hermínio Palma Inácio, ao sair da prisão de Caxias, captadas para uma reportagem publicada na página 5:

 “Isto é maravilhoso!.. Sabemos ainda pouco sobre os objectivos da Junta… Oxalá não seja só uma liberdade de doze meses.”

Noticiava, ainda “ O Século” que grupos de populares invadiram as instalações da Comissão de Exame Prévio, ex-Censura, destruindo mobiliário e vasta documentação e colocava um apelo do capitão Salgueiro Maia, pedindo aos populares que não  destruíssem arquivos de valor histórico inestimável.

Pelas ruas da cidade os populares começavam a caça aos pides, publica-se uma fotografia que ficou para a História. Da notícia retiro este pormenor: “entretanto eram presos vários agentes da DGS entre os quais um morador no Bairro Espírito Santo em Odivelas, que foi denunciado por uma senhora. Trazia uma pistola de guerra nas “roupas íntimas inferiores.”





Em “Ultimas Notícias” referia-se que o embaixador de Portugal no Brasil, José Hermano Saraiva” dirigiu-se pela rádio e televisão à comunidade portuguesa:

“O processo que o país atravessa é pacífico, sem violências, e representa um caminho em busca da solução dos seus problemas, disse.

A página desportiva, falando do regresso da equipa do Sporting, tinha este curioso título: 

“A eliminação da Taça das Taças esquecida na Cortina de Ferro por razões óbvias”.

O jogo realizara-se em Magdeburgo, na então chamada Alemanha Oriental.

 Noticia “A Capital” que foram demitidos os governadores de Angola, Moçambique e Guiné, nomeados novos comandos para as regiões militares, GNR e PSP, as tomadas de posição de diversos sindicatos, que no Técnico reabria a Associação de Estudantes bem como a reunião da Junta de Salvação Nacional com a CDE, a Sedes, a Convergência Monárquica e directores dos diversos órgãos de informação.

A CDE fazia-se representar por Francisco Pereira Moura, José Manuel Tengarrinha, Herberto Goulart, Pedro Coelho e Gilberto Ramos, a Sedes por Sá Borges, Magalhães Mota, Teodoro da Silva, A Convergência Monárquica por Rodrigo Montezuma, Pedro Paiva Pessoa e João Vaz Serra e Moura.

Exilado no Brasil o Prof. Rui Luís Gomes anunciou o imediato regresso a Portugal.

Na última página a notícia de que o capitão cubano Pedro Rodriguez Peralta, condenado pelo Tribunal Militar Territorial de Lisboa em dois anos e dois meses de prisão, acusado de pertencer ao PIGC e que se encontrava internado na Cruz Vermelha Portuguesa, vigiado por dois agentes da PIDE/DGS, ficava sob custódia da Junta de Salvação Nacional.

Na primeira página o “Diário Popular” informava que os bancos reabriam ao público na segunda-feira, enquanto na pág. 17 realçava um comunicado da assembleia da Conferência Episcopal da Metrópole. Os senhores bispos, tão silenciosos em tempo de ditadura, entenderam formular votos para o bem-estar da Sociedade portuguesa.

 A edição do “República” salientava que ainda continuavam à solta e armados, mais de dois mil agentes da PIDE/DGS.

Na sua agenda de  espectáculos, podia ler-se a seguinte nota:

“Como os nossos leitores se têm apercebido, a programação da RTP foi profundamente alterada, não sendo ainda possível a organização de horários. Aconselhamos portanto a manterem os aparelhos ligados para a captação de qualquer informação importante ao País.”

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