sábado, 30 de abril de 2011

IDÍLIO EM BICICLETA


“Mas nem Bogotá é perfeita, e a clareza da orientação para deixar a cidade, de repente foi perturbada por uma estranha placa de sinalização indicando Lisboa! Ainda me senti tentado a virar à direita e seguir a seta, mas recordei-me que o meu lema é: “em caso de dúvida, virar à esquerda”, não à direita!
Em Bogotá, Lisboa é em frente, claro...
Tinha-me visto passar, á chegada, com a bicicleta e agora entusiasmava-se com as respostas que lhe iam dando. Concluiu rapidamente que esta era uma viagem “bastante loca” e que eu devia ser um pouco louco também! E quando confirmei a dedução dele, a excitação atingiu o auge, falando velozmente para o colega e para a (presumo) mãe, sem que tenha percebido patavina. Foi a mãe que me disse que ele queria oferecer-me as mangas e para eu escolher mais fruta, que era toda “regalada”. Ainda insisti para pagar, mas retorquiam que não e não. Só queriam tirar uma fotografia comigo! E depois das várias fotos com o telemóvel, despedimo-nos com apertos de mão, palmadas nas costas e a tocante frase, mais que confirmada pelo olhar: “cá o esperamos com mucho gusto quando vuelva”.
Não consigo perceber que gene é este, o dos colombianos, praticamente sem excepção, do mais humilde vendedor de caramelos, amendoins, ou fruta, na berma de uma estrada, no cerro de uma montanha ou no vale fechado ao mundo, ao mais “evoluído” empregado de hotel, passando pela própria polícia, que faz deles o povo mais amável, mais simpático, mais amistoso, mais educado com que me cruzei até hoje… Em cada contacto, é como se estivesse entre velhos amigos, vizinhos de sempre, com grande estima, fraternidade e espontaneidade…sei que me estou a repetir, mas é tão grande a surpresa e a intensidade que me apetece narrar cada encontro e cada diálogo…”

Texto e imagem de Idílio Freire

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