Dizem-me: as cerejeiras começam a florescer.
Claro que não vale a pena lamuriar o já não esperarmos a fruta da época porque as frutas se estendem por todo o ano, vindas daqui, dali, dacolá.
No Natal, vindas do Chile, é possível comprar cerejas.
O ciclo, o ritmo das estações, já não é aquele que aprendemos na instrução primária, juntamente com as serras e os rios, os seus afluentes, as linhas férreas de Moçambique e Angola.
Mas é acariciante saber que para os lados da Gardunha, nos quintais por aí, as cerejeiras começam a estar em flor.
O LADRÃO DE CEREJAS
“Uma manhãzinha, muito antes do cantar do galo,
Fui acordado por um assobio e fui à janela.
Na minha Cerdeira – o crepúsculo enchia o jardim –
Estava sentado um moço de calças remendadas
A colher muito animado as minhas cerejas. Ao ver-me
Acenou-me co’a cabeça, e com ambas as mãos
Colhia as cerejas dos ramos para os bolsos.
Durante muito tempo, já outra vez na cama,
Ainda o ouvi assobiara a sua canção alegre.”
Bertolt Brecht em “Poemas e Canções”, tradução de Paulo Quintela, Livraria Almedina, Coimbra, 1975.
Legenda: “O Tempo das Cerejas”, aguarela de Bruschetti
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