Há alguns anos, Mário Castrim, numa das
suas críticas de televisão no Diário de
Lisboa, deixou escrito:
«Quem já leu Jack London, fecha os olhos
quando entram os cãezinhos do circo.»
Nunca apreciei o
espectáculo que o meu clube, antes do começo dos jogos, oferece aos
espectadores com o voo da águia vitória.
Também não concordo
com o «speaker» do estádio quando informa que vais ser cantado o hino do Sport
Lisboa e Benfica.
O que eles põem a
tocar é «Ser Benfiquista», uma cançoneta do Luís Piçarra, nunca o hino do
clube.
A leviandade, a
ignorância têm destas coisas lamentáveis.
Por isso retardo
sempre a entrada no estádio para não ter que ver e ouvir disparates.
A águia é uma ave
nobre que não pode estar sujeita a cenas circenses de péssimo gosto.
Sobre isso uma
organização inglesa, que se dedica aos direitos dos animais, revelou ter
enviado uma carta ao Benfica a pedir que retire a águia dos jogos do clube, e
acrecentam:
«O lugar das águias não é em eventos desportivos. Na natureza, estas
aves magníficas percorrem vastos territórios, passam a maior oparte do seu
tempo acima das árvores, voam livremente e caçam em espaços amplos.»
Tenho a quase certeza
que estas palavras caíram em cesto roto.
Quanto ao hino do
Sport Lisboa e Benfica, volto a contar :
Este é o verdadeiro
Hino do Sport Lisboa e Benfica cantado pelo Orfeão do Glorioso.
Quando sentado na catedral, ouve o speaker do Estádio, com uma
histeria de levantar fantasmas a dizer e agora, cachecóis ao alto, a
uma só voz, cantemos o hino do Sport Lisboa e Benfica, fica todo pele de
galinha.
O que se ouve é Luís Piçarra a cantar o Ser
Benfiquista que, segundo António Vilarigues, no seu
blogue O Castendo, é uma
cançoneta apresentada a 16 de Abril de 1953, num sarau, no Pavilhão dos
Desportos, para angariação de fundos destinados à construção do Estádio, com
letra e música de Paulino Gomes Júnior, um confesso salazarista.
Abra-se um parêntesis para dizer que Luís Piçarra, um ferrenho
benfiquista, foi pessimamente tratado, nos últimos anos de uma vida muito
difícil, por sucessivas direcções do clube.
Diga-se que o Hino do Sport Lisboa e Benfica dá pelo nome de Avante, Avante p’lo Benfica, data
de 1929, tempo do 25º aniversário do clube, tem letra de Felix Bermudes, um
democrata e um homem da Cultura, e música de Alves Coelho.
É esta a letra do hino:
Do velho Clube Campeão,
Que um nobre esforço imortaliza,
Em gloriosa tradição.
Olhando altivo o seu passado,
Pode ter fé no seu futuro.
Pois conservou imaculado
Um ideal sincero e puro.
Avante, avante p'lo Benfica,
Que uma aura triunfante Glorifica!
E vós, ó rapazes, com fogo sagrado,
Honrai agora os ases
Que nos honraram o passado!
Olhemos fitos essa Águia altiva,
Essa Águia heráldica e suprema,
Padrão da raça ardente e viva,
Erguendo ao alto o nosso emblema!
Com sacrifício e devoção
Com decisão serena e calma,
Dêmos-lhe o nosso coração!
Dêmos-lhe a fé, a alma!
Claro que este Avante, Avante p’lo
Benfica fazia comichões ao ditador Salazar que acabou por ordenar que o hino
deixasse de ser cantado.
Ordens expressas foram, mais tarde, dadas à Censura para que os jornalistas não
designassem os jogadores do clube por «vermelhos» mas sim por «encarnados.»
3 comentários:
Belo trabalho, Sammy.
Saudações Leoninas
Quaisquer que sejam, as saudações são sempre bem-vindas. Obrigado.
Sou mesmo do tempo em que o FCP era um clube regional e ainda não tinha surgido aquele que entendeu, estupidamente, e não só, abrir, por causa do futebol, uma guerra norte-sul-basto provinciana.
A minha infância futebolistica povou-se pela existência do Benfica e do Sporting e apenas existia sã rivalidade.
O pior veio muito depois e, lentamente, o futebol começou a destruir-se.
Ainda vou olhnado, mas perdeu todo o encantamento.
Abraço
Perfeitamente de acordo. A partir do momento em que o futebol passou a ser uma indústria o seu encanto e a sua magia foram-se esfumando.
Abraço
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