terça-feira, 8 de novembro de 2011

FRENTE A FRENTE



Os dias de Novembro continuam electrizantes.

No dia 8, o Diário de Lisboa publica um suplemento de 16 páginas com a transcrição, na íntegra, do Frente a Frente, moderado por Joaquim Letria, entre Álvaro Cunhal e Mário Soares, que dois dias antes o país vira em directo pela RTP.

Sobre esse longo serão, e, na apresentação do documento, o Diário de Lisboa escreve:

O que ficou tragicamente definido neste “encontro impossível, foi a disparidade de duas linguagens: a do imediato que se projecta em realidades próximas (P.S.) e a do futuro próximo (P.C.) que assenta em realidades imediatas.
Seja como for, o perfil do P.C. P. não regista significativas correcções neste frente-a-frente, mas é o P.S. que, para o grande público, sai mais esclarecido nas entrelinhas do confronto. Será uma opinião, mais ou menos orientada – como se quiser. Mas que desapaixonadamente se deduzirá do relato que publicamos na integra.

A destruição dos emissores da Rádio Renascença, para além de ser uma machadada no ânimo faz forças populares, desencadeou entre os pára-quedistas um sentimento de repulsa por compreenderem que, mais uma vez, foram manipulados.

As tropas que intervieram na destruição dos emissores e que estavam aquarteladas no Depósito de Adidos em Lisboa, realizam um plenário para apreciação do acontecimento, e acabam por aprovar uma moção em que é repudiada a destruição perpetrada e as ordens que  a motivaram.

José Flecha do Diário Popular, destacado para cobrir o acontecimento, conseguiu apurar que a maior parte dos pára-quedistas, desconheciam que faziam parte do A.M.I.
Ainda da reportagem:

A esquerda tem que ser liquidada a partir de 11 de Novembro.
Estas palavras são atribuídas ao capitão pára-quedista  Barroca Monteiro, comandante da companhia que  destruiu as instalações da Rádio renascença.
É em referência àquela afirmação do capitão pára-quedista que um soldado nos diz: “Isto foi só uma amostra. Estamos certos que outras acções se irão realizar, contra as forças progressistas, e contra aqueles que se mostram ao lado dos trabalhadores e explorados.

Em Tancos, os sargentos da Força Aérea, reunidos em plenário, verberaram a destruição violenta de um meio de comunicação que foi nos últimos meses uma voz ao serviço do povo e exigem o regresso das companhias de pára-quedistas que se encontravam, colocadas em Lisboa ao serviço do AMI.

O Diário de Lisboa faz-se eco da entrevista que o general Morais e Silva concedeu ao Rádio Clube Português e que pode considerar-se verdadeiramente inquietante, inquietante porque o CEMFA revela uma completa ausência de perspectiva política em relação a um acto que vai ter repercussões impossíveis de prever em toda a asua extensão.
Disse o general Morais e Silva que havia apenas três hipóteses: “ou se tiravam os cristais – o que não daria resultado, pois da outra vez foram substituídos; ou se desmontava o equipamento – o que não seria viável, até porque o pessoal não podia lá estar indefenidamente; ou em última análise, se destruía o equipamento. Perante a premência do tempo e verificando que era impossível desmontar o material, optou-se pela última solução que era a destruição do equipamento.


Legenda: cartoon de João Abel manta, capa do suplemento do Diário de Lisboa onde se transcreve o frente a frente entre Cunhal e Soares.

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