Quando o Eduardo
Guerra Carneiro foi encontrado estatelado na laje do prédio onde vivia, na Travessa do Abarracamento de Peniche.,
ali ao Príncipe Real,, o Baptista-Bastos num, terno e comovente, artigo publicado no extinto
Mil Folhas do jornal Público, titulou-o admiravelmente: O Poeta que se atirou para o céu.
Conhecerem-se por aí,
nos bares entre copos e cigarradas, nos jornais, como lembrava o Eduardo em O Revólver do Repórter:
Recordo a sala
grande da redacção do Diário Popular, conversas de afecto e
companheirismo. Recordo, antes e depois, as palavras escritas, os pequenos
papéis da solidariedade, o tique nervoso do acender um cigarro, o gesto de
agarrar um copo para outra bebida.
A crónica chama-se «Um Soco no Estômago»
e disserta sobre o livro de Baptista-Bastos, de 1981, Um Homem Parado no
Inverno:
Agora: um soco no
estômago. A crueza do vazio. A dolorosa sensação de um frio interior. A cidade
cercada, os campos desolados, as conversas perdidas, as ruínas circulares de
aldeias remotas envoltas em neblina.
É
como se caminhasse com o peso da memória de várias gerações traídas. Fantasmas
entram no discurso e riem nas caveiras brancas de tanta ingenuidade.
Um Homem Parado no
Inverno termina assim:
O inverno vai ser
longo e áspero.
Vou ter muito
tempo para recordar
Legenda: Baptista-Bastos no Ritz Club,
fotografia tirada do catálogo da Exposição Baptista-Bastos: Prosador do
Mundo, Museu do Neo-Realismo, Abril 2008
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