sábado, 6 de maio de 2017

O QU'É QUE VAI NO PIOLHO?



Tinha em mãos Alentejo Não tem Sombra, uma antologia de poesia contemporânea sobre o Alentejo, organizada por Eugénio de Andrade.

Encontrei agora um outro: «40 Anos de Servidão» do Jorge de Sena.

Invariavelmente, cada ida a um cinema, que tivesse livraria contígua, tinha direito a visita e estou para garantir que não terá existido nenhuma ida que não tivesse saído com livro debaixo do braço.

No Apolo 70, havia uma estupenda sala de cinema e sobrava um problema: para além de livraria, tinha discoteca, que era um sítio onde se compravam discos, na altura, de vinil.

Dado o apertadíssimo orçamento caseiro existia pormenores ginásticos.

No canto superior direito, o livreiro, a lápis, colocou o preço do livro: 400$00.
Hoje, qualquer coisa como 2 euros.

Tempos bons, apesar do resto.

Uma noite, não tenho o registo da data, a Simone de Oliveira disse num programa de televisão que Lisboa, nos anos sessenta era mais bela do que nos tempos que então corriam.

Mário Castrim, na sua coluna de crítica no semanário Tal & Qual, disse-lhe que estava enganada.

«Era uma cidade medonha. Monstruosa. Os embarques dos soldados para África.

Uma cidade paranóica.

Calada. Amordaçada. Sitiada, Vigiada.

Um gatilho esperava a luz a cada esquina. E não só a luz.

O medo toldava todos os mirantes sobre o Tejo.

Está enganada, Simone. Nos anos sessenta, Lisboa era uma cidade muito feia.

Não vá em cantigas».

Sem comentários: