Tinha em mãos Alentejo Não tem Sombra, uma
antologia de poesia contemporânea sobre o Alentejo, organizada por Eugénio de
Andrade.
Encontrei agora um
outro: «40 Anos de Servidão» do Jorge
de Sena.
Invariavelmente, cada
ida a um cinema, que tivesse livraria contígua, tinha direito a visita e estou
para garantir que não terá existido nenhuma ida que não tivesse saído com livro
debaixo do braço.
No Apolo 70, havia uma
estupenda sala de cinema e sobrava um problema: para além de livraria, tinha
discoteca, que era um sítio onde se compravam discos, na altura, de vinil.
Dado o apertadíssimo
orçamento caseiro existia pormenores ginásticos.
No canto superior
direito, o livreiro, a lápis, colocou o preço do livro: 400$00.
Hoje, qualquer coisa
como 2 euros.
Tempos bons, apesar
do resto.
Uma noite, não tenho
o registo da data, a Simone de Oliveira disse num programa de televisão que
Lisboa, nos anos sessenta era mais bela do que nos tempos que então corriam.
Mário Castrim, na sua
coluna de crítica no semanário Tal &
Qual, disse-lhe que estava enganada.
«Era uma cidade medonha. Monstruosa. Os embarques dos soldados para
África.
Uma cidade paranóica.
Calada. Amordaçada. Sitiada, Vigiada.
Um gatilho esperava a luz a cada esquina. E não só a luz.
O medo toldava todos os mirantes sobre o Tejo.
Está enganada, Simone. Nos anos sessenta, Lisboa era uma cidade muito
feia.
Não vá em cantigas».
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