O Hank não era uma cabeça tonta. Não havia nada de apalhaçado nele.
Mesmo em jovem, identificava-me completamente com ele. Não precisava de
experimentar nada que Hank fizesse para saber sobre o que ele cantava. Nunca
tinha visto um pisco-de-peito-ruivo chorar mas conseguia imaginá-lo e sentia-me
triste. Quando cantou «the news is all over town», eu soube de que notícias se
tratava, ainda que na verdade não soubesse. Assim que pudesse, iria também ao
baile gastar os sapatos. Vim a saber mais tarde, que Hank morrera no banco de
trás de um carro no dia de Ano Novo, fiz figas, e esperei que não fosse
verdade. Mas era verdade. Era como se uma grande árvore tivesse caído. A
notícia da morte do Hank foi um murro no estômago. O silêncio cósmico nunca
soou de forma tão gritante. Ainda assim, soube, instintivamente, que a sua voz
nunca desapareceria ou definharia – uma voz que lembrava uma bela trompa.
Bob Dylan em Crónicas
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