Se precisasse de acordar realmente depressa, punha a «Swing Low Sweet
Cadillac» ou a «Umbrella Man» de Dizzy Gillespie. Hot House do Charlie Parker era outro dos discos
muito bons para acordar. Havia muito poucas almas por aí que tivessem visto e
ouvido Parker a tocar, e parecia que ele lhes tinha transmitido uma essência
secreta da vida. «Ruby My Dear» de Monk era outro. Monk tocava no Blue Note na
3rd Street com John Ore no baixo e Frankie Dunlop na bateria.
Às vezes ele ficava por lá a tocar sozinho ao piano umas coisas que se
pareciam com as do Ivory Joe Hunter – uma grande sandes meia comida deixada em
cima do piano. Passei por lá à tarde uma vez só para ouvir – disse-lhe que
tocava música folk umas ruas acima.
«Todos tocamos música folk»,
disse-me. Mesmo quando andava na vadiagem Monk estava no seu próprio mundo
dinâmico. Até nessas alturas inflamava a essência das coisas com nuvens
mágicas.
Gostava muito do jazz moderno, de o ouvir nos clubes… mas não segui nem
fui apanhado por ele. Não se alimentava de palavras banais com significados
especiais. Eu precisava de ouvir coisas claras e simples em bom inglês e as
músicas folk eram o que mais
directamente me falava. Tony Bennett cantava em bom inglês e eu gostava de um
dos seus discos – aquele chamado Hit Songs of Tony Bennett, que tinha «In the Middle of an Island»,
«Rags to Ritchies» e a canção do Hank Williams «Cold, Cold Heart».
Bob Dylan em Crónicas
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