quarta-feira, 17 de maio de 2017

TODOS TOCAMOS MÚSICA FOLK


Se precisasse de acordar realmente depressa, punha a «Swing Low Sweet Cadillac» ou a «Umbrella Man» de Dizzy Gillespie. Hot House do Charlie Parker era outro dos discos muito bons para acordar. Havia muito poucas almas por aí que tivessem visto e ouvido Parker a tocar, e parecia que ele lhes tinha transmitido uma essência secreta da vida. «Ruby My Dear» de Monk era outro. Monk tocava no Blue Note na 3rd Street com John Ore no baixo e Frankie Dunlop na bateria.
Às vezes ele ficava por lá a tocar sozinho ao piano umas coisas que se pareciam com as do Ivory Joe Hunter – uma grande sandes meia comida deixada em cima do piano. Passei por lá à tarde uma vez só para ouvir – disse-lhe que tocava música folk umas ruas acima. «Todos tocamos música folk», disse-me. Mesmo quando andava na vadiagem Monk estava no seu próprio mundo dinâmico. Até nessas alturas inflamava a essência das coisas com nuvens mágicas.
Gostava muito do jazz moderno, de o ouvir nos clubes… mas não segui nem fui apanhado por ele. Não se alimentava de palavras banais com significados especiais. Eu precisava de ouvir coisas claras e simples em bom inglês e as músicas folk eram o que mais directamente me falava. Tony Bennett cantava em bom inglês e eu gostava de um dos seus discos – aquele chamado Hit Songs of Tony Bennett, que tinha «In the Middle of an Island», «Rags to Ritchies» e a canção do Hank Williams «Cold, Cold Heart».

Bob Dylan em Crónicas

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