Mas sempre vos direi que em todo o tempo foram os homens dignos de
comiseração. E vocês sê-lo-ão igualmente. Confesso-vos que penso em vós com
alguma apreensão. Pergunto a mim mesmo, frequentemente, que será do mundo, que
será da presente civilização quando se esgotar o petróleo? É claro que o
petróleo há-de acabar, como tudo. Fura-se a terra afanosamente, em solo firme e
no fundo dos mares, e vai-se-lhe chupando essa mal cheirosa seiva de que
depende toda a nossa vida. E quando não houver mais nada para chupara? Conheci
um homem muito católico, e não menos obtuso, que me respondeu um dia quando lhe
falei neste assunto: “O petróleo nunca mais acaba. Deus não podia permitir numa
coisa dessas!” Não sabia o pobre diabo que Deus tem permitido coisas terríveis
uma das quais foi ter-se descoberto o petróleo.
E como vai ser depois? Como andarão os automóveis? E os aviões? Saberão
vocês, meus queridos tetranetos, o que é um automóvel ou o que é um avião?
Talvez os conheçam como eu conheço os coches de Suas majestades que se guardam
nos museus, e alguns bem lindos, por sinal. E depois? Andarão vocês de coche?
Isto na hipótese da terceira guerra mundial deixar sobreviventes.
É claro que não me esqueço de que as ciências e as técnicas não param
de progredir, e que as descobertas futuras são insuspeitadas, mas deve ser
muito difícil substituir o petróleo nas suas aplicações. Vocês é que o saberão.
Rómulo de Carvalho em
Memórias
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