Neste dia, em vez de dar aula, fui conversar com o metodólogo.
Perguntei-lhe se devia falar caro ou falar acessível; e ele achou, comigo, que
devia falar acessível, porque serei «sempre diferente deles». Isto de ser
«diferente deles» vem lembrar outro assunto de que falámos – se não neste,
noutro dia. – O do professor que sente a necessidade de se impor ao aluno pelo
alardeamento de uma vastidão e complicação de conhecimentos com que o amachuca
e que se irrita ou inventa, se necessário for, quando o aluno lhe pergunta
qualquer coisa que ele não sabe. Por mim, nego-me a impor-me desta maneira
medrosa e desonesta e será, como tem sido, sempre sem vergonha que direi que
não sei. Se não houver este ano há para o outro ou para de aqui a cinco o aluno
que compreende que o professor não é um livro aberto. «O meu melhor professor
foi um professor de Inglês que não sabia nada de Inglês» – disse o meu metodólogo;
ora quem o julgou o campeão dos professores creio eu que não foi o metodólogo;
foi o aluno do Liceu.
Mas onde haverá papel (e memória abundante e precisa?) para registar
tudo quanto nós conversámos? Neste dia o assunto que mais abordámos foi o
professor. Falei-lhe de um para encantador meu amigo e já agora, para fechar este
parágrafo, deixo aqui aquela encantadora confissão da Lourdinhas, tão boa
indicação do que, em última palavra, deve ser o Professor: «Então a gente anda
aqui tão feliz e no fim do mês ainda nos dão dinheiro?»
Sebastião da Gama em Diário
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