A Ucrânia está a
ser destruída e não tem hipótese de vencer a guerra, os ocidentais sabem disso,
mas continuam a alimentar a ilusão de um país que resiste à invasão militar não
provocada. Na realidade, houve uma provocação ao longo de quase duas décadas.
Os EUA queriam levar a Ucrânia para a NATO e sabiam que a Rússia não ia tolerar
esse alargamento ou a perda da Crimeia. De alguma forma, é a segunda guerra da
Crimeia (houve outra no século XIX); esta porventura ainda mais complexa,
envolvendo o conflito indirecto entre Estados Unidos e Rússia, com o campo de
batalha na Ucrânia. Temos aqui o verdadeiro motivo do conflito: a tentativa de
gerir o iminente colapso do império russo, uma fantasia que fermentou na
imaginação dos peritos que conceberam o plano em Washington. Moscovo invadiu,
sofreu sanções devastadoras, não se rendeu, a estratégia da NATO falhou. Ao fim
de dois meses de combates, quando os exércitos russo e ucraniano estavam perto
de um acordo de paz, os ocidentais prometeram todo o apoio para a
continuação das operações militares. Os ucranianos agarraram-se à jangada da
ajuda, que durou até agora. Centenas de milhares de mortos depois, a situação é
desesperada: não há munições, dinheiro ou soldados, estão a ser recrutadas
mulheres para a linha da frente e a "minoria" russa na Ucrânia perdeu
direitos cívicos (é especialmente falsa a narrativa da luta entre um regime
autoritário e uma democracia). A Rússia está mais forte, mas a retórica dos
ocidentais insiste na estratégia falhada. Os europeus aceitaram as imposições
americanas e mostraram a sua nulidade. Os impopulares governos da UE não sabem
como sair do desastre. A Ucrânia será um país de refugiados e órfãos, perde um
quinto do território e vai sair disto com o fardo de uma paz cartaginesa bem
pior da que conseguia em Abril de 2021. Os ressentimentos vão durar uma
geração. Por enquanto, evitou-se a terceira guerra mundial, do mal o menos.
Luís Naves em Delito de Opinião
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