domingo, 7 de janeiro de 2024

BLOGUEANDO POR AÍ

A Ucrânia está a ser destruída e não tem hipótese de vencer a guerra, os ocidentais sabem disso, mas continuam a alimentar a ilusão de um país que resiste à invasão militar não provocada. Na realidade, houve uma provocação ao longo de quase duas décadas. Os EUA queriam levar a Ucrânia para a NATO e sabiam que a Rússia não ia tolerar esse alargamento ou a perda da Crimeia. De alguma forma, é a segunda guerra da Crimeia (houve outra no século XIX); esta porventura ainda mais complexa, envolvendo o conflito indirecto entre Estados Unidos e Rússia, com o campo de batalha na Ucrânia. Temos aqui o verdadeiro motivo do conflito: a tentativa de gerir o iminente colapso do império russo, uma fantasia que fermentou na imaginação dos peritos que conceberam o plano em Washington. Moscovo invadiu, sofreu sanções devastadoras, não se rendeu, a estratégia da NATO falhou. Ao fim de dois meses de combates, quando os exércitos russo e ucraniano estavam perto de um acordo de paz, os ocidentais prometeram todo o apoio para a continuação das operações militares. Os ucranianos agarraram-se à jangada da ajuda, que durou até agora. Centenas de milhares de mortos depois, a situação é desesperada: não há munições, dinheiro ou soldados, estão a ser recrutadas mulheres para a linha da frente e a "minoria" russa na Ucrânia perdeu direitos cívicos (é especialmente falsa a narrativa da luta entre um regime autoritário e uma democracia). A Rússia está mais forte, mas a retórica dos ocidentais insiste na estratégia falhada. Os europeus aceitaram as imposições americanas e mostraram a sua nulidade. Os impopulares governos da UE não sabem como sair do desastre. A Ucrânia será um país de refugiados e órfãos, perde um quinto do território e vai sair disto com o fardo de uma paz cartaginesa bem pior da que conseguia em Abril de 2021. Os ressentimentos vão durar uma geração. Por enquanto, evitou-se a terceira guerra mundial, do mal o menos.

 

Luís Naves em Delito de Opinião

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