Gorki Por Ele Próprio
Nina Gourfinkel
Tradução: Jaime Brasil
Colecção Escritores de Sempre nº 1
Portugália Editora, Lisboa, Dezembro de 1964
Para mim não há outra ideia além do homem. O homem e o homem só é, na minha opinião, o criador de todas as coisas e de todas as ideias, é ele que realiza milagres e, no futuro, será senhor de todas as forças da natureza. O que há de mais belo no nosso mundo foi criado pelo trabalho e a mão inteligente do homem; a história da arte, das ciências, da técnica ensina-nos que todos os nossos pensamentos, todas as nossas ideias emanam do método do trabalho. O pensamento é posterior ao feito. «Inclino-me» perante o homem, porque não sinto nem vejo nada na terra estranho às materializações da sua razão, da sua imaginação, do seu espírito inventivo. Deus foi uma invenção do homem, tal como a fotografia, com a diferença de que esta fixa os traços do que existe realmente, enquanto que Deus é uma foto da ideia que o homem faz de um ser que quer – e pode – ser omnisciente, omnipotente e perfeitamente justo.
E se é preciso
absolutamente falar de «sagrado», digamos que só há de sagrado o
descontentamento que o homem sente por si próprio e a sua aspiração de se
tornar melhor; sagrado é o seu ódio pelas velharias de uma existência de que
ele próprio é responsável; sagrado o seu desejo de aniquilar na terra a inveja,
a ambição, os crimes, as doenças, as guerras e toda a inimizade entre os
homens; sagrado é o seu trabalho.
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