Ainda Não se Escreveu
António Botto
Edições Ática,
Lisboa, Julho de 1959
Canção
Não digas mal do teu amigo
E não ofendas nunca o teu irmão
Nem compliques a vida do companheiro
Onde trabalhas, também, para viver…
Quem precisa de lutar e de ganhar
Para comer,
Respeita o sentimento da solidariedade
Para não ter que ficar
A ser um dia procurado
Pela vingança do ofendido,
E ter então finalmente que ajustar
As contas que ficaram na memória
Do camarada que se ofendeu.
Não sejas desleal ao teu amigo.
Sê e nunca te arrependas
De ser bom, dar o exemplo
Para não te poderem criticar
Apontando os defeitos que saíram
Nesse momento em que o teu raciocínio
Deixou de ser sensato.
O mundo tem o feitio de um balão,
Rebenta num rápido segundo
E tudo cai na invisível retratação
De sermos coisa caída,
Coisa morta abandonada pelo chão.
E não fica sequer uma porta
Nessa infixável ocasião.
Não te esqueças meu leitor
Desta despretensiosa canção.
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