domingo, 14 de janeiro de 2024

VIAGENS POR ABRIL


                  Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.

                 João Bénard da Costa

 

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.

 

São muitas, muitas mesmo muitas e variadas as histórias do antes e do 25 de Abril.

Hoje, pegamos num artigo de Ana Sá Lopes no Público e avançamos lá muito para trás, até aos defensores da ditadura salazarista/caetanista, os tais fascistas que isso não gostam que lhes chame.

 Era assim:

A Assembleia Nacional abriu portas, imagem acima tirada de O Século, mas, por falta de quorom, não houve plenário.

O presidente, Engª Amaral Neto, sabedor (?) do que estava a acontecer no país, mas, possivelmente acreditando num qualquer milagre, marcou sessão para o dia seguinte, à hora regimental.

 Texto lido num jornal de que não encontro o nome, nem o autor:

 «Massacravam-nos os ouvidos com afirmações de coragem.

Diziam que, se alguma vez o chamado estado Novo corresse perigo. Iriam dar tiros para a rua.

Afirmavam-se prontos a morrer.

Juravam, rejuravam e trejuravam que o Povo só chegaria ao poder passando por cima dos seus cadáveres.

Gritavam aos quatro ventos que iriam vender cara a vida.

Consideravam-se soldados de uma guerra gloriosa.

Não perdiam uma ocasião de proclamar o desejo que tinham de provar a sua fidelidade vertendo, para tal o seu próprio sangue.

Arrotavam postas de valentia.

As suas permanentes gabarolices, infantis e monocórdicas, tinha-nos levado a crer que, no dia da mudança, iriam fazer qualquer coisa.

Dar um grito, por exemplo – um grito, um suspiro, um soluço.

Mas nem isso.

No dia vinte e cinco de Abril, os heróis do palavreado não cumpriram uma única das promessas que tinham feito.

Perderam o pio.»

 E estas são as palavras de Ana Sá Lopes no Público de hoje:

«Há uma lenda em Portugal, muito resistente, segundo a qual um país inteiro esteve a combater em silêncio uma ditadura. Essa lenda, como quase todas as lendas, é falsa: havia muita gente que vivia habitualmente (a tal frase sacramental de Salazar) e que estava integrada no regime sem grandes questões.

Portugal deve ao PSD e CDS o facto de terem sido capazes de integrar a direita nostálgica, afirmando-se no regime democrático português sem “mas”, ainda que o CDS de Freitas do Amaral (o tal que foi apagado agora num vídeo da nova AD) tenha votado contra a Constituição. A nossa transição democrática foi muito mais “à espanhola” do que o nosso mito revolucionário nos permite assumir.

Sim, somos xenófobos. Sim, somos racistas. Já não é o avô “fascista” que combateu na guerra colonial ou o refugiado/retornado que teve de voltar para um país (este) onde não queria viver. São os netos deles.

 Portugal não acordou de repente com um monte de fascistas, xenófobos e racistas. Sempre cá estiveram. E, a avaliar pela evolução da extrema-direita na Europa, vão-se tornar mais audíveis. A direita “civilizada” que sempre os abrigou perdeu élan, deixou de ter líderes agregadores.»

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