Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.
João Bénard da Costa
Será um desfilar de
histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias,
figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação
do dia, mês, ano em que aconteceram.
São muitas, muitas mesmo muitas e variadas as histórias do antes e do 25 de Abril.
Hoje, pegamos num artigo de Ana Sá Lopes no Público
e avançamos lá muito para trás, até aos defensores da ditadura
salazarista/caetanista, os tais fascistas que isso não gostam que lhes chame.
Era assim:
A Assembleia Nacional abriu portas, imagem acima tirada de O Século, mas, por falta de quorom, não houve plenário.
O presidente, Engª Amaral Neto, sabedor
(?) do que estava a acontecer no país, mas, possivelmente acreditando num
qualquer milagre, marcou sessão para o dia seguinte, à hora regimental.
Texto lido num jornal de que não encontro o nome, nem o autor:
«Massacravam-nos os ouvidos com afirmações de coragem.
Diziam que, se alguma vez o chamado estado Novo
corresse perigo. Iriam dar tiros para a rua.
Afirmavam-se prontos a morrer.
Juravam, rejuravam e trejuravam que o Povo só chegaria
ao poder passando por cima dos seus cadáveres.
Gritavam aos quatro ventos que iriam vender cara a
vida.
Consideravam-se soldados de uma guerra gloriosa.
Não perdiam uma ocasião de proclamar o desejo que
tinham de provar a sua fidelidade vertendo, para tal o seu próprio sangue.
Arrotavam postas de valentia.
As suas permanentes gabarolices, infantis e
monocórdicas, tinha-nos levado a crer que, no dia da mudança, iriam fazer
qualquer coisa.
Dar um grito, por exemplo – um grito, um suspiro, um
soluço.
Mas nem isso.
No dia vinte e cinco de Abril, os heróis do palavreado
não cumpriram uma única das promessas que tinham feito.
Perderam o pio.»
E estas são as palavras de Ana Sá Lopes no Público de hoje:
«Há uma lenda em Portugal, muito resistente, segundo a qual um país inteiro esteve a combater em silêncio uma ditadura. Essa lenda, como quase todas as lendas, é falsa: havia muita gente que vivia habitualmente (a tal frase sacramental de Salazar) e que estava integrada no regime sem grandes questões.
Portugal deve ao PSD e CDS o facto de
terem sido capazes de integrar a direita nostálgica, afirmando-se no regime
democrático português sem “mas”, ainda que o CDS de Freitas do Amaral (o tal
que foi apagado agora num vídeo da nova AD) tenha votado contra a Constituição.
A nossa transição democrática foi muito mais “à espanhola” do que o nosso mito
revolucionário nos permite assumir.
Portugal não acordou de repente com um monte de fascistas, xenófobos e racistas. Sempre cá estiveram. E, a avaliar pela evolução da extrema-direita na Europa, vão-se tornar mais audíveis. A direita “civilizada” que sempre os abrigou perdeu élan, deixou de ter líderes agregadores.»
Sem comentários:
Enviar um comentário