sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

OLHAR AS CAPAS


Liberdade de Imprensa e Dignificação da Palavra

Nuno Teixeira Neves

Colecção Cadernos Unicepe nº 1

Edição do Autor, Porto, Abril de 1969

O sermos insistentemente postos perante uma divisória entre vocação e preparação todas as vezes que se fala de ensino do jornalismo, denuncia, segundo creio, um vício de mentalidade. Porque se põe tal problema apenas para o jornalismo? Julgo que porque é precisamente para o jornalismo que se reclama, agora, o ensino. Se o reclamássemos para a medicina, haveria quem o pusesse em iguais termos para a medicina. Ou para a advocacia, ou para a docência. Ora a verdade é que qualquer profissão requer igualmente «vocação» e preparação. E quanto mais digna e responsável for a profissão menos a preparação poderá ser imediata e empírica, tendo tanto mais que ser imediata e escolar.

De resto eu não seja o que seja «vocação». Parece-me um conceito confuso. Há apenas aptidões, mais ou menos adquiridas, mais ou menos plásticas, e interesse, e tanto aquelas como este resultam do jogo entre as condições intrínsecas ao indivíduo e as condições ambientais.

Acrescentemos que o jornalismo é hoje algo demasiadamente complexo para que a natureza se tenha lembrado de criar para ele as «vocações» correspondentes: há-de ser aprendido, penosamente aprendido, como tudo quanto é exercício deste ser requintadamente civilizado que somos.

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