Liberdade de
Imprensa e Dignificação da Palavra
Nuno Teixeira Neves
Colecção Cadernos Unicepe nº 1
Edição do Autor, Porto, Abril de 1969
O sermos
insistentemente postos perante uma divisória entre vocação e preparação todas as vezes que se fala de ensino do
jornalismo, denuncia, segundo creio, um vício de mentalidade. Porque se põe tal
problema apenas para o jornalismo? Julgo que porque é precisamente para o
jornalismo que se reclama, agora, o ensino. Se o reclamássemos para a medicina,
haveria quem o pusesse em iguais termos para a medicina. Ou para a advocacia,
ou para a docência. Ora a verdade é que qualquer profissão requer igualmente
«vocação» e preparação. E quanto mais digna e responsável for a profissão menos
a preparação poderá ser imediata e empírica, tendo tanto mais que ser imediata
e escolar.
De resto eu não
seja o que seja «vocação». Parece-me um conceito confuso. Há apenas aptidões, mais ou menos adquiridas, mais
ou menos plásticas, e interesse, e tanto aquelas como este resultam do
jogo entre as condições intrínsecas ao indivíduo e as condições ambientais.
Acrescentemos que
o jornalismo é hoje algo demasiadamente complexo para que a natureza se tenha
lembrado de criar para ele as «vocações» correspondentes: há-de ser aprendido,
penosamente aprendido, como tudo quanto é exercício deste ser requintadamente civilizado
que somos.
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