terça-feira, 23 de janeiro de 2024

O OUTRO LADO DAS CAPAS


A Sonata a Kreutzer é um curto romance de Tolstói publicado em 1889.

Será um dos livros mais antigos da Biblioteca da Casa.

Publicado pela Livraria Guimarães na Rua do Mundo, hoje Rua da Misericórdia, mas sem qualquer indicação da data em que foi editado.

Encadernação amadora, imagem do topo, do meu avô que, seguindo as instruções do meu pai, conservou a capa original do livro. 

O livro tem a assinatura de posse do meu pai.

Ainda antes de ser o leitor em que me constituí, o meu pai avisara que não se colocam assinaturas, ou carimbos de posse, nos livros.

 Um livro muito interessante de Tolstoi que, logo a abrir nos infoma que estávamos no princípio da Primavera e que há dois longos dias viajavam de comboio.

Quatro viajantes permaneceram sempre na carruagem: uma mulher de meia idade, cigarro na boca, gorro na cabeça, seu marido, também um sujeito idoso, boné de Astrakan, uma camisa com bordados russos, homem de poucas palavras, lia e fumava, volta e meia preparava uma chávena de chávena de chá, iremos saber que se chama Pozdnychev e que mantém com o narrador um longo monólogo, quase diálogo à volta de uma epígrafe do Evangelho Segundo São Mateus: «Eu, porém, vos digo: todo aquele que olha para uma mulher com desejo libidinoso já cometeu adultério com ela em seu coração».

Pozdnychev matara a mulher e, se já transportava em si uma enorme solidão, piorou.

«O homem é muito pior do que o animal, quando não vive como homem. Foi o que se deu comigo. Como resistia à tentação, que, sobre mim, podiam exerecer outras mulheres, julgava-me um homem honesto e digno. E acusava minha mulher de fazer do nosso lar uma sucursal do inferno.

E comtudo, a culpa não era della, mas da educação que havia recebido. Educação egual devem receber todas as raparigas da nossa sociedade.

Ha muito quem se queixe da forma porque a mulher é educada. Ha muito que deseje dar-lhe outra orientação. Pura rethorica! Para educar a mulher, é necessário, primeiro do que tudo, fazer compreender ao homem a verdadeira missão da mulher.

Emquanto o homem a destinar para seu regalo e prazer, a educação da mulher será o reflexo dessas idéas. Desde creança lhe ensinarão a fazer valer os seus encantos. Este pensamento tornar-se-á preocupação, mais do que isso, acabrá por ser o único fim da sua existência.»

O romance foi proibido na Rússia logo após a sua publicação.

Surgiu uma versão mimeografada e, apesar da fúria dos censores russos,  foi amplamente divulgada.

Em 1890, o Departamento Postal dos Estados Unidos proibiu o envio de jornais contendo partes serializadas da obra. Isto foi confirmado pelo Procurador-Geral dos Estados Unidos no mesmo ano. Theodore Roosevelt classificou Tolstoi como um  “pervertido sexual".

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