Pasolini foi denunciado a um padre – Ah! essa velha invenção do confessionário… - de ter relações sexuais com um aluno seu. Sofreu-lhe as consequências: foi depois disso, desse episódio maligno que a Santa Madre Igreja recomenda aos rapazes, ficou desempregado. Ora, interessante para mim era saber o que pensa X um padre e intelectual de vanguarda com fama de progressista, homem inteligente, frugal, doutor honoris causa, acerca desse velho e desfavorecido problema. Será… será que S. M. I. não vê nisso – ou deixou de ver – ameaça ao seu bordel nupcial? Dois padres eu conheci que – nunca mo disseram – estavam, os dois, longe o bastante dessas quezílias. Mas o Bispo de Braga, o Bispo-adjunto de Aldegundes, o coadjunto de Bucelas, o próprio Cardeal bem bonito em novo, o padreca lá da terra – dizem que foder em comum só entre os animais, e, caso estes sejam masculinos, o que devem é apagar as luzes e não sujar os lençóis… Bem, por entre o quadriculado da tampinha que desce e sobe, entre ais e gemidos do padre António espanhol (apanhado em flagrante no eucalipto e que, como era altíssimo, apertava as pernas dos meninos entre os joelhos), tudo isso conta: o estar na tropa é uma atenuante de peso. Nos corredores do Vaticano, nas colunas do Osservatóre, nas ante câmaras e penumbras do Sacro -: será que assim seja, ámen seculorum ámen? As putas do Bairro Alto, bem como os marinheiros de Alfama -: hão-de pensar que, assim, a Madre Igreja não se governa… E que toda a governação eclesiástica é veste clerical sem princípio nem fim, sem justeza moral.
Raul de Carvalho em Mágico Novembro
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