sábado, 13 de janeiro de 2024

O OUTRO LADO DAS CAPAS


Maravilhosos os tempos de juventude em que li Jack London.

Nunca esqueci uma frase que li numa crítica, longínqua, de televisão do Mário Castrim no Díário de Lisboa:

«Quem já leu Jack London, fecha os olhos quando aparecem os cãezinhos do circo.»

Ao colocar este livro no Olhar as Capas, fui relendo aqui e ali, e não resisto a transcrever um pedaço, está na página 99, de O Apelo da Selva:

«Este homem salvara-lhe a vida, o que já era qualquer coisa; mas, acima de tudo, ele era o dono ideal. Na sua maioria, os homens  cuidam dos seus cães por um sentido do dever ou por conveniências profissionais; este cuidava dos seus como se seus filhos fossem, e porque não podia deixar de fazê-lo. E mais. Nunca se esquecia de lhes dirigir uma saudação carinhosa ou uma palavra de encorajamento e de, sentado no chão ter com eles longas conversas («conversas fiadas», como ele dizia, sentindo nisso tanto prazer como eles.  Tinha um gesto muito seu de agarrar rudemente a cabeça de Buck entre as mãos e, apoiando a sua cabeça na do cão, abaná-lo para trás e para a frente, enquanto lhe segredava palavras ofensivas, que para Buck eram palavras de amor. Buck não conhecia maior alegria que esse abraço rude e o som das pragas sussurradas, e, a cada balanço para trás e para a frente, parecia que o coração lhe saltava do peito, tão grande era o seu êxtase. E quando, uma vez liberto, de um salto se punha em pé, a expressão risonha, os olhos eloquentes, a garganta vibrante de sons inarticulados e assim se conservava sem se mover, John Thornton, cheio de respeito, exclamava:

- Santo Deus só te falta falar.»

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