Maravilhosos os tempos de juventude em que li Jack London.
Nunca esqueci uma frase que li numa crítica,
longínqua, de televisão do Mário Castrim no Díário de Lisboa:
«Quem já leu Jack London, fecha os olhos
quando aparecem os cãezinhos do circo.»
Ao colocar este livro no Olhar as Capas,
fui relendo aqui e ali, e não resisto a transcrever um pedaço, está na página
99, de O Apelo da Selva:
«Este homem
salvara-lhe a vida, o que já era qualquer coisa; mas, acima de tudo, ele era o
dono ideal. Na sua maioria, os homens
cuidam dos seus cães por um sentido do dever ou por conveniências
profissionais; este cuidava dos seus como se seus filhos fossem, e porque não
podia deixar de fazê-lo. E mais. Nunca se esquecia de lhes dirigir uma saudação
carinhosa ou uma palavra de encorajamento e de, sentado no chão ter com eles longas
conversas («conversas fiadas», como ele dizia, sentindo nisso tanto prazer como
eles. Tinha um gesto muito seu de
agarrar rudemente a cabeça de Buck entre as mãos e, apoiando a sua cabeça na do
cão, abaná-lo para trás e para a frente, enquanto lhe segredava palavras
ofensivas, que para Buck eram palavras de amor. Buck não conhecia maior alegria
que esse abraço rude e o som das pragas sussurradas, e, a cada balanço para
trás e para a frente, parecia que o coração lhe saltava do peito, tão grande
era o seu êxtase. E quando, uma vez liberto, de um salto se punha em pé, a
expressão risonha, os olhos eloquentes, a garganta vibrante de sons
inarticulados e assim se conservava sem se mover, John Thornton, cheio de
respeito, exclamava:
- Santo Deus só te
falta falar.»
Sem comentários:
Enviar um comentário