domingo, 20 de julho de 2025

COISAS EXTINTAS OU EM VIAS DE...

Esta é a capa do JL nº 1429, que se supõe ser o último número.

O director, José Carlos de Vasconcelos, escreve um angustiante texto em que nos diz que o «JL não pode morrer?...»

«… porque não sei o que dizer aos nossos leitores e amigos sobre o futuro do JL. Não sei mesmo se ele voltará a sair…»

Quando em Março de 1981, surgiu o JL, Fernando Namora gostou muito «sob todos os aspectos», Natália Correia também, porque «vem dar a mão àqueles que estão ávidos de estímulos culturais para se libertarem da intoxicação política», Miller Guerra também gostou porque há muito se aguardava um jornal como o JL, mas acabou por notar que a «natureza da colaboração e a sua qualidade, embora excelentes, tornam a sua leitura, pelo menos para algumas camadas de leitores, um pouco pesada.».

Teresa Clara Gomes foi taxativa:

«Desiludiu-me. Esperava um jornal que me desse gosto ler., saiu-me mais um dever que um prazer. Acho o conjunto pesado, tanto na paginação como no conteúdo. Lamento, além disso, o tradicional elitismo do conceito de cultura subjacente à maioria dos textos. Diz-se que é um jornal de letras, artes e ideais, e os ideais quase não tocam o tecido cultural do nosso quotidiano. Esquecem-se, além disso, certas expressões culturais que nascem de criadores não intelectuais. Espero que isso seja e acidental e não corresponda a uma intenção dos responsáveis.»

No editorial poderia ler-se: «O JL é, ou pretende ser – na sua origem, no seu estilo e nos seus objectivos, -algo de novo entre

Nós (…) queremos ser um quinzenário de cultura potencialmente para toda a gente. Recusamos, pois os códigos das linguagens cifradas e os exercícios herméticos para pretensos iluminados».

Havia um espaço a ocupar e entendeu-se que o JL iria preencher esse espaço. Passados 44 anos, salvo alguns episódios, não o terá conseguido.

O JL saía, então, às terças-feiras e custava vinte e cinco escudos.

É esta a ficha técnica e os colaboradores do 1º número do JL.


Olhando hoje o 1º número do JL, e tendo em conta a tal «cultura para toda a gente» o que ressalta é e entrevista que o Fernando Assis Pacheco fez ao José Cardoso Pires, na sua casa da Costa da Caparica e em que os dois, para além dos livros e do resto, se deliciaram com uns tordos temperados e cozinhados pelo José Cardoso Pires e em que pelo meio aparece a frase do Cardoso Pires : «é muito mais difícil escrever um bom romance do que pilotar um Jumbo ou um Concorde.»

2 comentários:

Luis Eme disse...

Como defensor da Cultura, sei que não devia escrever o que sinto. Mas como nunca fui "fretista"...

Eu que até fui assinante, fui percebendo que o "JL" era uma "capelinha", com dois ou três padres e meia dúzia de sacristãos... e, por isso mesmo, há já algum tempo que o deixei de o ler.

Sei que é difícil fazer um jornal do género sem colaboradores fixos, mas já não suportava aquele "rank, rank", um diz bem do livro do amigo, o outro faz a mesma coisa... e depois temos tanto livro bom dos "não amigos", que não tem direito sequer a uma linha...

É a minha opinião, Sammy. Vale o que vale.

Sammy, o paquete disse...

Desde o 1º número que o cinzentismo se fixou nas paredes da redacção do JL. Quando o Rodrigues da Silva por lá se instalou, houve uns lampejos, mas a filha da mãe apanhou-o cedo demais - «Não sou um arrependido, um convertido, ou um cristão-novo. Sou um cristão-velho, um escriba velho, um marxista velho e faço parte da esquerda velha. Por isso, sou pela missa em latim, rejeito o novo Acordo Ortográfico, creio na luta de classes e no punho erguido, estremeço quando vejo uma bandeira vermelha com a foice e o martelo, e hei-de ir para a cova com a cagança de jamais ter votado PS (não se esqueçam deste último pormenor, daqui a uns tempos, no meu elogio fúnebre).»
A estranhíssima venda de algumas publicações que Balsemão fez a Luís Delgado teria que dar no que deu!...
Nunca podemos ficar felizes com a morte de um jornal, mas há uma frase sua no comentário que diz tudo: « um diz bem do livro do amigo, o outro faz a mesma coisa... e depois temos tanto livro bom dos "não amigos", que não tem direito sequer a uma linha...».
Abraço.