Não tenho qualquer dúvida de que o Dia Mundial da Criança transformou-se mais numa oportunidade de negócio do que num dia respeito e gosto pelas crianças.
Já para não dizer que o respeito e o gosto pelas crianças deveria ser uma exigência para todos os dias.
Há muito tempo, com os meus sobrinhos, comecei por aproveitar este dia para lhes oferecer um livrinho: em pequenos, livros para pintar e mais tarde outro tipo de livros.
Vieram depois os filhos, entretanto os sobrinhos foram tendo descendência, chegaram os netos e continuo a assinalar o dia com livrinhos.
Este ano não vou conseguir chegar a todos, razão que me levou a colocar aqui um poema de Fernando Pessoa tirado de um livro que, na Feira do Livro deste ano, comprei a um preço quase de saldo.
Manuela Nogueira antologiou poemas de Fernando Pessoa para a infância e chamou-lhe O Melhor do Mundo São as Crianças.
Do capítulo Canções para acordar Crianças escolhi duas canções:
I
Levava eu um jarrinho
Para ir buscar vinho;
Levava um tostão
Para comprar um pão;
Levava uma fita
Para ir bonita.
Correu atrás
De mim um rapaz.
Foi o jarro para o chão,
Perdi o tostão,
Rasgou-se-me a fita…
Vejam que desdita!
Se eu não levasse um jarrinho
Para ir buscar vinho,
Nem levasse um tostão
Para comprar um pão,
Nem levasse uma fita
Para ir bonita,
Nem corresse atrás
De mim um rapaz
Para ver o que eu fazia,
Nada d’isto acontecia.
II
Pia, pia, pia
O mocho,
Que pertencia
A um coxo.
Zangou-se o coxo
Um dia,
E meteu o mocho
Na pia, pia, pia…
Legenda: capa do livro O Melhor do Mundo São as Crianças, Antologia de Poemas e Textos de Fernando Pessoa para Crianças, organizada por Manuela Nogueira, Assírio & Alvim, Lisboa 1998.
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