Já não espero dormir como dormia, vítima de sobressaltos,ficar à chuva dois minutos que seja, certificando-mede como fui ignorado ainda que a chuva sejaum dos poucos prazeres sem resíduo, como acordar de noitee mobilar a insónia com ovos mexidos,café, cigarros, poemas. Aconteceu há muitosanos, estava na fila da com o sexo pendentede vergonha e frio, o médico perguntou: “defeitos físicos?”e eu só confessei ter miopia e astigmatismo. Agoranão tenho nenhuma relutância em deitar-me em camas estranhas,mas prefiro dormir sozinho.Ah! Verão tumultuoso, corpos em risco de desabar,o trânsito frenético de comboios, miragens- alguém lá dentro que evita olhar,levanta-se do assento e quer saber quanto lhe falta,“por favor dizia-me que horas são” (novo silêncio)- Deus, relojoeiro magnífico!- como se pode viver de boa mente numa cidade estranha,a imprudência de estar à espera que alguém nos ouça,que connosco lamente quartos húmidos e manhãs frias,mas sem ter pena? Nunca será de mais louvaros solavancos do autocarro, já que perdemos rumo e destino.Pois estava previsto ser um acasoe a geografia de Abril claudica nas noites mais intensas,um perfume que se liberta, uma granada de ternura perdidana carruagem do Metro. Pode chover granizo, acordaro cheiro tumultuosos da terra e depois de tropeçar na listados pedidos, passar duas semanas em coma,com janelas estreitas, folgas ao domingo, nostalgia dessa morrinhaque cai em Famalicão no Inverno, que as videiras bebeme aduba o coração, um abandono que consolaao dizer “gosto muito de ti”, no momento em que é certoque já não voltaria.José Alberto Oliveira em 366 Poemas Que Falam de Amor, Antologia organizada por Vasco da Graça Moura, Quetzal Editores, Lisboa 2004.Legenda: pintura de Edward Hopper.
quinta-feira, 31 de maio de 2012
A EMPREGADA PORTUGUESA DO RESTAURANTE ITALIANO JUNTO A RUSSELL SQUARE
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