quinta-feira, 10 de maio de 2012

OLHAR AS CAPAS


Morte Serena

Simone de Beauvoir
Tradução de Luísa DaCosta
Capa: Jorge Pinheiro
Editorial Minotauro, Lisboa Janeiro 1966

Não se morre de ter nascido, nem de ter vivido, nem de velhice. Morre-se de qualquer coisa. Saber a minha mãe condenada pela idade a um fim próximo não atenuou a horrível surpresa. Um cancro, uma embolia, uma congestão pulmonar: é tão brutal e imprevisível como a paragem dum motor em pleno céu. A minha mãe encorajava ao optimismo quando, impotente, moribunda, afirmava o valor infinito de cada instante; mas ao mesmo tempo o seu vão encarniçamento destruiu o véu tranquilizador da banalidade quotidiana. Não há morte natural: nada do que acontece ao homem é natural, visto que a sua presença põe o mundo em causa. Todos os homens são mortais: mas para cada homem a morte é um acidente e, mesmo que ele saiba e consinta nisso, uma violência indevida.

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