sábado, 5 de maio de 2012

JANELA DO DIA


Aquando da inauguração, em Lisboa, da Feira do Livro, abri a janela e deixei a minha estranheza por os responsáveis livreiros terem mudado a data de abertura da feira, de finais de Maio para a que agora vai ocorrendo.

Aparentemente ninguém consegue perceber.

Deixo-vos a opinião de Francisco Vale, lida no blogue da Relógio d’Água, alguém que sabe da poda, não só pela sua condição de escritor, como  pela de editor:

Não, não estou a sugerir que no 6.º andar do n.º 27 da Av. Estados Unidos da América os directores da APEL se dedicam a práticas de autoflagelação em meio da habitual parafernália de blusões negros, chicotes e algemas.

A autoflagelação a que me refiro não vem de profundezas do inconsciente, mas do céu, ou mais exactamente das nuvens.

Tal como sucedeu o ano passado, a Feira do Livro de Lisboa abre sob a chuva, a humidade e o frio que afasta visitantes e ameaça livros e sessões de autógrafos. Entretanto, o efeito da promoção dissipa-se.

Muitos de nós têm já nostalgia da Feira de Lisboa percorrida em tardes de sol, onde à sombra de um castanheiro-da-índia podíamos ler algum desses clássicos russos que ajudaram a formar o nosso itinerário sentimental.

Deixou de ser assim porque a APEL insiste em realizar a Feira entre a última semana de Abril e meados de Maio. Ora é estatisticamente mais provável ocorrer chuva nesse período do que, por exemplo, entre 3 e 20 de Maio, que tem ainda a vantagem dos jacarandás floridos no Parque Eduardo VII. Não é só a meteorologia a dizê-lo. A sabedoria popular fala de «Abril, águas mil» e a poética, através de T. S. Eliot, refere que «Abril é o mês mais cruel» (…), «agita raízes dormentes com chuva da Primavera».

Que explica então este reiterado masoquismo anual? A APEL certamente dirá que, sendo os pavilhões da Feira do Livro do Porto os mesmos de Lisboa, não se pode empurrar aquela feira para o Verão e a dispersão das férias. Mas que mal haveria em realizá-la entre, digamos, 8 e 24 de Junho?

De resto, não se entende porque não se alterna entre as duas cidades o início das Feiras. Como há muito menos pavilhões no Porto, no ano em que a Feira começasse a norte, poder-se-ia mesmo avançar a sua montagem em Lisboa, estreitando o prazo entre as feiras, e permitindo assim que acabassem mais cedo.

E já agora, sendo cada vez menos as inscrições para a Feira do Porto, porque não adiá-las de modo a poderem ser feitas já com as receitas recolhidas na de Lisboa? É que o aluguer dos pavilhões é bem mais caro que o de uma suíte num bem situado hotel de Manhattan ou mesmo de Luanda.

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