quarta-feira, 16 de maio de 2012

OLHARES


Não é de ontem, não é de hoje, pertence a todo o sempre.

Qualquer poder político, governamental, local, não resiste à tentação do fontismo, das obras de fachada.

Em plena euforia de vacas gordas, um jornalista perguntou a um alto responsável cavaquista como é que iriamos financiar tanta obra pública:

 O importante é que as obras estão lá!

Foi nesta loucura desenfreada e irresponsável que batemos no fundo.

Quem da Praça Paiva Couceiro, desce a Avenida Mouzinho de Albuquerque, para chegar aos Caminhos de Ferro, e antes de chegar ao campo do Operário Futebol Clube,  se olhar para o lado direito, depara-se com este paredão de cimento, este enorme buraco.
O que hoje se olha, é o que resulta de um projecto megalómano, que já vem dos tempos de João Soares, mas coube a Pedro Santana Lopes lançar, com pompa e circunstância, a primeira pedra.

Ali era para ser construída a nova Biblioteca e Arquivo Central do Município de Lisboa, um edifício de 11 andares, um investimento, números de 2005, calculado em 30 milhões de euros.

Um projecro a que, solenemente, chamaram A Cidade dos Livros junto ao Tejo virada para o Futuro.


Para além da Biblioteca e Arquivo, o projecto englobava uma outra componente cultural, com dois auditórios, uma livraria, galerias de exposições, terraços com esplanadas e  um restaurante panorãmico.

Previa-se que a obra ficaria concluída no final do ano de 2008.

Da obra prevista, a única coisa que arrancou foi a escavação e a contenção de terras.

Entre o que se vê e o projecto, a autarquia gastou mais de três milhões de euros.

Não é difícil saber quem anda a pagar esta e outras loucuras.

A irresponsabilidade campeia.

 A impunidade é algo com que os políticos, os autarcas, outras gentes, convivem às mil maravilhas porque a Justiça, simplesmente, não existe.

Ainda há poucos dias se ficou a saber que o brilhante autarca Isaltino de Morais não bate com os costados na prisão porque a Justiça permitiu-lhe saídas perfeitas e, durante 15 anos, de recurso em recurso, os factos que levaram à sua condenação, favorecimento de um empreiteiro, a troco de dinheiro que foi parar a uma conta na Suiça que até pertencia ao sobrinho, prescreveram.

E por aí se passeia, de sorriso irónico, charuto ao canto da boca, podre de chique!...

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